quinta-feira, 30 de junho de 2011

Explicação de um caso



Há umas décadas atrás, os bancos começaram a emprestar dinheiro aos construtores civis. Muitos mestres-de-obras, alguns que nem passavam de meros aprendizes de pedreiros, tornavam-se rapidamente prósperos empresários alardeando a sua súbita riqueza na espantosas e vistosas casas que construíam, bem à vista de todos e nas grandes e luzidias  máquinas que exibiam pelas ruas e estradas deste país. Eram estes os homens de sucesso que muitos tratavam pela alcunha, nada agradável, de “patos bravos". Os prédios e as novas urbanizações nasceram como cogumelos, um pouco por todo o lado.
Mas o negócio só podia funcionar se houvesse quem comprasse as ditas habitações. Por isso, os bancos logo facilitaram o funcionamento do sistema oferecendo crédito barato aos que, para concretizarem o sonho de adquirirem casa própria, se endividavam comprometendo nisso parte dos seus rendimentos por uma grande parte das suas vidas.
Os bancos proliferaram e progrediram. Mas foi crescendo a chamada “bolha do imobiliário” que, qual bola de sabão, acabou por rebentar.
A certa altura, a torneira dos financiamentos a baixo custo começou a secar. Os juros cresceram. Os que tinham obtido créditos muito favoráveis, viam os seus rendimentos minguarem na razão directa do acréscimo dos seus compromissos. Os construtores ficavam com as casas por acabar ou por vender. A falência das empresas gerou os despedimentos em massa. A bola de neve começou a descer a encosta e não mais parou de aumentar.
Incapazes de cumprir as suas obrigações, as pessoas começaram a entregar as casas que não podiam pagar. Os bancos tornaram-se os maiores proprietários do parque imobiliário do país. Mas, como a sua função é a de “vender” dinheiro e não a de alugar casas, trataram de leiloar as que lhes eram entregues, a preços muito compensadores. Os que podiam comprá-las puderam fazer grandes negócios e trataram de arrendar as casas que tinham comprado a preços de saldo.
O ciclo fechava-se. Mas foram, como sempre, os mesmos a perder e os mesmos a lucrar.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Palavras sensatas


A sociedade consumista em que temos andado a viver, tornou-nos tão acomodados que até perdemos o saudável hábito de pensar. Ora, os tempos das fáceis regalias propiciadas pelo crédito fácil em que nos fomos enredando, não pode continuar. A menos que aceitemos como fatal o caminho para a “banca rota” a que nos conduziu esta “economia de casino” das políticas seguidas um pouco por toda a Europa.
Nesta conjuntura, devemos tornar-nos capazes de entender as ideias que nos tornem aptos a optar pelas melhores soluções a fim de reequilibramos as nossas vidas, principalmente aquilo que nelas deve ser a parte essencial: a vida das nossas famílias.
Nesse sentido, transcrevo as palavras simples mas muito sábias do texto que passo a transcrever:
Os filhos mais novos que agora vão crescer em ambiente “de crise” não vão poder usufruir de tantas “mordomias” quanto os mais velhos. O que provavelmente não lhes trará grande sofrimento desde que os pais não se sintam culpados por não lhes poderem dar o mesmo que deram aos irmãos mais velhos. As crianças só precisam de perceber que o amor dos pais e da família não entrou em crise e que sejam quais forem as circunstâncias é, esse sim, “igual para todos”
(Sofia Barrocas, in, “Notícias Magazine” 19 de Junho de 2011)

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Pensar a Política


Confesso a minha tendência para votar em partidos de esquerda. Desde que esses partidos me garantam a defesa daquilo que, para mim, deve ser a essência do Estado: a Democracia.
Mas, sou capaz de entender que não fará muito sentido, apoiar partidos que, apresentando-se como de esquerda, usam e abusam de políticas de carácter nitidamente neoliberal. Sendo assim, entendo que mais vale que essas políticas sejam executadas por partidos que se assumem doutrinariamente como tal. É mais coerente e mais honesto que assim aconteça.
Por outro lado, sou também capaz de entender que o “Estado Social”, para mim o modelo ideal de organização política, não pode significar que cada um entenda que pode tudo exigir sem se sentir obrigado a contribuir para a manutenção do mesmo Estado.
Por isso, para que uma política verdadeiramente social seja sustentável, o Estado deve ser forte, exigente, vigilante do cumprimento da lei, da ordem e de que cada um cumpra escrupulosamente as suas obrigações fiscais.
O “Estado Social” só subsiste se apoiado numa base económica estável. Por isso, deve ser rigoroso para que haja equidade e justiça na distribuição das benesses e dos sacrifícios. Essa é a condição básica da justiça social. O mau entendimento disto leva, por um lado, ao “parasitarismo” de uns, à prática da corrupção por outros, a qual favorece a especulação que propicia o escandaloso enriquecimento de uma minoria.
Penso que se todos analisarmos as práticas políticas à luz destes critérios, se tornará mais eficaz a vigilância que, enquanto cidadãos, devemos exercer num Estado Democrático.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um direito ou um grande descaramento?

O Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC) convocou uma greve de dez dias em protesto contra a diminuição de um tripulante de cabina. (Note-se que a TAP é das companhias aéreas que mais comissários e assistentes de bordo utiliza em cada voo). Invocavam os sindicalistas a segurança dos passageiros que, no seu entender, seria posta em causa.
A situação da companhia é tão pouco segura que, outros trabalhadores e mesmo a opinião pública, reagiram prontamente contra esta decisão que colocava em risco o futuro da companhia e, portanto, os seus postos de trabalho.
O SNPVAC recuou mas não sem exigir um substancial aumento de regalias que nada têm a ver com as questões que envolvem a segurança dos passageiros da TAP.
A isto chegámos: sindicatos que exigem coisas que põe em risco outros sectores laborais (a isto chamaremos solidariedade?); invocam como razões a segurança dos clientes, mas contentaram-se com vantagens pessoais (a isto chamaremos coerência?); sindicatos, servindo-se do direito à greve, reivindicam uma coisa para no fim obterem outra (a isto chamaremos chantagem?)
O abuso de direitos, quase sempre obtidos com muito esforço e muita luta, é a maneira mais rápida para enfraquecer as razões que legitimam esses direitos.

sábado, 18 de junho de 2011

Cerca de 300 pessoas assistiram à deposição das cinzas de Saramago


"O tempo das verdades plurais acabou. Vivemos no tempo da mentira universal. Nunca se mentiu tanto. Vivemos na mentira, todos os dias."
(José Saramago)

Exactamente um ano depois da sua morte, a 18 de Junho de 2010, e à mesma hora a que morreu, 11:30, iniciou-se a cerimónia de homenagem ao Nobel da Literatura português, no Campo das Cebolas, em Lisboa, ao som dos tambores da orquestra de percussão Tocá Rufar.

A escritora Lídia Jorge tomou depois a palavra para, em tom emocionado, partilhar com os presentes uma mensagem para Saramago, intitulada “Palavras para Ti”.
“Tu não serás as cinzas que Pilar vai depositar sob a oliveira (…), serás os milhares de páginas que escreveste (…) De resto, nós queremos que este momento seja alegre, que sejas seiva desta cidade”, afirmou.
“Quanto a nós, enquanto formos vivos, recordar-te-emos sempre. Não temos outra eternidade para te dar”, rematou.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A falta de memória...

Na noite da eleição para a Assembleia da República que determinou quem  será o próximo primeiro-ministro de Portugal, após o primeiro-ministro cessante ter, com grande dignidade, reconhecido a sua derrota e cumprimentado o seu adversário pela vitória obtida, uma criatura que, ao que parece, será uma jornalista credenciada com carta profissional, fez ouvir a sua voz para perguntar como é que ele encarava a possibilidade de vir a ser confrontado com novos processos judiciais. 
Francamente!... Depois de seis anos de uma campanha persecutória de insinuações em que nada conseguiram provar, ainda uma última estocada à má fila para encerrar o processo mais miserável a que se assistiu nos últimos tempos em Portugal. 
Será isto jornalismo ou apenas uma caluniosa perseguição?
No último 10 de Junho, o primeiro-ministro ainda em exercício, no desempenho das suas funções, participou numa cerimónia em Castelo Branco. Foi recebido com insultos e apupos. Porquê? Para quê? Em nome de quê? Com que direito? Não tinha sido já julgado pelos pelos resultados eleitorais?
Nessa mesma cerimónia o presidente da Comissão das Comemorações do Dia de Portugal, permitiu-se fazer um discurso crítico em que, fingindo atacar toda a classe política, visava sobretudo atacar a acção dos que tinham ocupado funções governativas nos últimos tempos. No entanto, o homem que falava era o mesmo político que, alguns anos antes, fora o Ministro da Agricultura. Que lógica há neste comportamento? Com que autoridade pode falar assim quem teve a possibilidade de remediar as coisas e mais não fez do que contribuir para a situação em que o país hoje se encontra? 
Lembram-se dos subsídios chorudos concedidos aos proprietários agrícolas que foram convertidos em jipes, piscinas e outros mimos? E lembram-se de quem  era o primeiro-ministro da altura? Era o mesmo que, no se discurso,  naquele mesmo palco, agora como Presidente da República de Portugal, lamentava a situação a que o país chegara.
Francamente! Se os próprios políticos se comportam com tão pouca elevação, como nos podemos admirar das parvoíces de uma qualquer criatura armada em jornalista, ou dos berros dos energúmenos que insultaram a coberto do anonimato?

sábado, 11 de junho de 2011

Falar claro ?...Ou atirar a pedra e esconder a mão?...

O Presidente da Comissão das Comemorações do Dia de Portugal teve um discurso muito crítico para os responsáveis políticos. 

António Barreto defendeu hoje "o apuramento de responsabilidades" pela crise, resultado da "imprevidência das autoridades", referiu.
O responsável discursava na sessão solene do Dia de Portugal, hoje, em Castelo Branco, em que defendeu ainda uma revisão constitucional.
Apesar de não a considerar "solução para a maior parte das dificuldades" defende a revisão "para pôr termo à permanente ameaça de governo minoritários e de parlamentos instáveis".
Segundo referiu, "uma constituição renovada implica um novo sistema eleitoral, com o qual se estabeleçam condições de confiança, lealdade e de responsabilidade, hoje pouco frequentes na nossa vida política".
O discurso de cinco páginas teve como base a crise financeira, mas aborda a crise política e social, apelando a que os portugueses sejam tratados "não apenas como contribuintes inesgotáveis ou eleitores resignados", mas como "cidadãos livres".
Barreto apontou o dedo a "alguns políticos" por "não terem dado o exemplo do sacrifício que se impõem aos cidadãos".
Disse mesmo que "a indisponibilidade [dos políticos] para falarem uns com os outros (...) contrasta com a facilidade e o oportunismo com que pedem aos cidadãos esforços excepcionais".
Agora, e numa alusão às Eleições Legislativas, sublinhou que "o povo falou, fez a sua parte, aos políticos cabe agora fazer a sua".
Para aquele responsável, Portugal está "num desses raros momentos históricos de aflição e de ansiedade colectiva em que é preciso estabelecer uma relação especial entre cidadãos e governantes".
 In, ECONÓMICO, 10 de Junho de 2011

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Não vai ser fácil, não...

O politólogo André Freire diz que além de obrigatoriamente ter que ser "tecnicamente forte, o próximo ministro das Finanças tem acima que tudo de ter uma vertente política muito forte". "É crucial", sublinha. O politólogo lembra que haverá a necessidade de negociar com outros parceiros de governo, já que o mais provável é que o Executivo seja de coligação, e também com a oposição.

António Costa Pinto concorda e defende que além da "experiência na máquina do Estado" e "alta competência técnica" este ministro das Finanças terá que ter uma vertente política forte. "A associação entre o primeiro-ministro e o ministro das Finanças terá que ser muito estreita". Tal como André Freire, António Costa Pinto sublinha a importância do próximo ministro das Finanças ter que ter uma capacidade de resposta e negocial com a Presidência da República, Governo e partidos da oposição. Em jeito de conclusão o politólogo diz que a partir de agora "80% da vida política do país está no Ministério das Finanças".

In ECONÓMICO, 6/6/2011

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Dá que pensar....



Quatro anos depois…
Por Serge Halimi  In Le Monde Diplomatique. Quinta-feira 5 de Maio de 2011

O Fundo Monetário Internacional (FMI) acaba de o admitir: «Quase quatro anos depois do início da crise financeira, a confiança na estabilidade do sistema bancário global continua a precisar de ser restaurada (…).
No fim da década de 1980, a seguir à falência fraudulenta das caixas de poupança americanas, foram levados aos tribunais 800 banqueiros. Agora, o poder dos bancos, ainda maior depois das reestruturações que concentraram o seu poder, parece garantir-lhes a impunidade face a Estados enfraquecidos pelo peso da dívida pública (…).
Três anos de reuniões do G20 que visavam criar uma «nova sinfonia planetária» conservaram portanto intacto um sistema que mistura desregulação bancária, prémios faraónicos para os geniozinhos da «inovação financeira» e pagamento de todos os danos que eles causam aos contribuintes e aos Estados. Assim, a crise que já devia ter sido vista como «crise a mais» foi uma crise para nada. Andrew Cheng, principal consultor da Comissão de Regulação Bancária chinesa, sugere que esta passividade resulta de um «problema de captura» dos Estados pelo seu sistema financeiro .O mesmo é dizer que os responsáveis políticos se comportam demasiadas vezes como marionetas que se preocupam, sobretudo, em não incomodar o festim dos banqueiros.

sábado, 4 de junho de 2011

Pois é...

Cartoon Elias o sem abrigo, de R. Reimão e Aníbal F