quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O NÃO!



Chega sempre um momento em que é preciso dizer não

A palavra de que eu gosto mais é não. Chega sempre um momento na nossa vida em que é necessário dizer não. O não é a única coisa efectivamente transformadora, que nega o status quo. Aquilo que é tende sempre a instalar-se, a beneficiar injustamente de um estatuto de autoridade. É o momento em que é necessário dizer não.
A fatalidade do não - ou a nossa própria fatalidade - é que não há nenhum não que não se converta em sim. Ele é absorvido e temos que viver mais um tempo com o sim.
José Saramago , in "Folha de S. Paulo" (1991)

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

ISTO SOA BEM?



Em tempos normais, o Governo governa e o Banco de Portugal toma conta da regulação bancária, da política monetária, junto dos seus parceiros do euro, e vigia as contas e o cumprimento das metas do Governo. Agora, o Banco de Portugal é um parceiro da governação e isso já é considerado normal, ao ponto de aparecer sem surpresa na procura de uma solução para um problema eminentemente político. E devemos estar preocupados com a solução "técnica" que aí vem.

    E o PS, faria algo de diferente? Isto é, sabemos que o seu discurso é diferente, assim como os objectivos anunciados, mas se o enquadramento de governo não mudar, é grande a probabilidade de se voltar ao mesmo. 

    Paira um grande equívoco no ar, segundo o qual as Finanças precisam de um técnico à frente. Todavia, sabemos que isso não é verdade na maior parte da Europa. É preciso pensar nas vantagens de entregar o Ministério das Finanças a um político, bem acompanhado dos bons técnicos que por lá há. E pensar também nas vantagens de o Banco de Portugal se concentrar numa das suas funções fundamentais, de vigilância ao Governo. Ao devolver a governação financeira à política, talvez sejam menores os riscos de se tomarem medidas com custos eonómicos gigantescos e nenhum retorno.

Pedro Lains, 23 Set. 2012

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

ASSIM VÃO AS COISAS



Elvas é o segundo concelho do distrito de Portalegre com mais desemprego, imediatamente atrás de Ponte de Sor, que lidera a tabela.
No concelho de Campo Maior, a taxa de desemprego está nos 19,25 por cento.
De acordo com os últimos dados divulgados, ao concelho de Elvas corresponde uma taxa de desemprego de 21,34 por cento, só superado pelos 24,32 por cento de Ponte de Sor.
(…)
Desempregados do concelho de Elvas vivem preocupações acrescidas, uma vez que encontrar emprego é cada vez mais difícil e o futuro parece ser cada vez mais uma incógnita nesta matéria.
A União dos Sindicatos do Norte Alentejano aponta para mais de dez mil desempregados existentes no distrito, colocando-o com uma taxa de desemprego a rondar os 20 por cento. Comparando o número de desempregados registados no final do mês de agosto deste ano com o mês homólogo de 2011, registou-se um aumento de 1385 desempregados no Alto Alentejo.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

VALOR E FAMA

Só o que nasce com qualidade tende a sobreviver. Tudo o que é feito com intenção de "brilhar", tende para a efemeridade.
Daí resulta que haja coisas que, tendo alcançado um rápido e fulgurante sucesso, estão condenadas a cair rapidamente no total esquecimento. Por que uma coisa é a fama , outra o valor que permanece no tempo ou que, com o tempo, acabarão por ser notadas, ou constantemente relembradas.
A memória que conserva certas coisas para a História de um tempo ou de um lugar, é pouco influenciada pela fama ou notoriedade que essas coisas tiveram.
Por isso, há hoje como sempre houve e continuará a haver, quem deliberadamente procure o sucesso mas apenas alcance a fama. Mas, a densidade e a seriedade que se põe na realização das coisas, determina a sua densidade e o seu valor.
Por isso, há hoje como sempre houve e continuará a haver, quem rejeite a forma ligeira de obter sucesso, preferindo o valor do que se faz, sem pensar no sucesso que se pode obter como criador. No fundo, criar, em sentido pleno, é pensar mais na obra sem cuidar de obter fama ou proveito.
A História tem critérios de selecção que, na maioria dos casos, não coincidem com os critérios do tempo em que as coisas foram criadas. 
Quantas vezes, os verdadeiros criadores são os que se escondem no quase total anonimato, dedicados de corpo e alma à sua missão de criar...

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

DA INTIMIDADE E DO PUDOR



Alguns, afirmam com convicção que os novos meios de comunicação - instantâneos, pessoais e individualizados - estão a acabar com a intimidade e o pudor de preservar a vida privada. A "Internet", através de "blogs", "face book" e outros, tornou-se veículo de trocas de comunicações que, além de vários perigos, desvendam a intimidade das pessoas e mesmo a vida privada das famílias. 
Mas, numa análise mais apurada esta opinião pode ser considerada como inconsistente. Afinal, através da “Internet”, as pessoas fazem, agora com mais facilidade, mais frequentemente e ignorando a distância que separa os interlocutores, o que sempre fizeram: expõem o seu “eu ficcional”, ou seja, uma espécie de “máscara social” que cada um compõe segundo a ideia de si que pretende projectar nos outros. Há os que conseguem tal perfeição de disfarce que chegam a ser convincentes. Outros, de facto, não enganam ninguém.
Quase tudo o que acontece através destes meios é o que pode acontecer nas conversas presenciais, com a diferença que nestas, a deformação do conteúdo das comunicações pode sofrer uma dupla deformação: a do emissor que pode mentir ou omitir e a do receptor que a pode alterar (quem conta um conto…).
Estes novos meios facilitam alguns recursos como o anonimato, máscara total que omite a identidade do comunicador. Este permite ultrapassar o natural pudor de assumir tendências, convicções e comportamentos tidos como socialmente não tolerados. Ou, pelo contrário, expor livremente ideias que, sendo aceitáveis e correctas, não convém ao emissor assumir como suas. É-se mais livre quando a máscara esconde a nossa identidade. Claro que os de temperamento mais exibicionista, gostam de exibir os seus dotes e capacidades. Geralmente estes tendem a armar-se em censores dos que, mais reservadamente, preferem não se identificarem, entendendo que o que deve ser apreciado é a obra e não o seu criador.
De certo modo, vem a propósito citar o que Agustina Bessa-Luís escreveu em Contemplação Carinhosa da Angústia
Nunca é oportuno falar de nós próprios. Penso que adiamos continuamente as nossas contas com a própria vida, adiamos o nosso retrato e só raramente damos uma pincelada mais geral para nos embelezarmos e mentirmos um pouco mais.

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

QUE FUTURO?



A União Europeia, que há três anos parecia ser um farol de progresso e um modelo para o mundo, entrou em descrédito, com as suas instituições apáticas e paralisadas. Começou com a crise grega, seguiram-se a irlandesa, a portuguesa e a cipriota, agora a espanhola e a italiana, depois talvez a francesa. Resta a Alemanha, da chanceler Merkel, que corre de um país para o outro, sem saber o que deve fazer. Só em agosto, mês de férias, foi duas vezes à China...
Trata-se da crise do euro e da possível desintegração europeia, pior do que a crise de 1929, que deu origem à II Guerra Mundial. É para aí que caminhamos? O certo é que os responsáveis institucionais estão paralisados - bem como os países vítimas - sem saber o que fazer. Estão à espera do Godot...
Portugal, infelizmente, também vai mal. O governo neoliberal, mais papista do que a troika, tem imposto medidas de austeridade devastadoras para a população, com a intenção de diminuir o défice. Mas mais de um ano depois, a situação ficou muito pior do que estava. A recessão aumentou, com a falência de empresas e fábricas, o País empobreceu, a classe média está a ficar de tanga, o desemprego cresceu devastadoramente e, ao contrário do esperado, a previsão do défice de 2012 até aumentou dos 4,5% para os 5,8% ou os 9,5% do PIB, segundo dizem os jornais.
Além disso, o primeiro-ministro parece muito contente com a acção ou inacção do Governo, como resultou do discurso aos seus jovens correlegionários da Universidade de Verão. Para o ano tudo vai estar ainda melhor, disse. Lembrei-me do Pangloss de Voltaire que estava sempre no melhor dos mundos.
ai haver privatizações - graves como disse, e bem, a ministra da Justiça - dos Correios e Telégrafos, TAP, Estaleiros de Viana, Águas de Portugal, etc. Medidas a retalho, não se sabe quem as paga e por quanto.
Os buracos financeiros - e tantos há - não foram até agora pagos, nem se sabe o que será feito deles. Parece que o melhor é não falar disso. Nem da RTP e da RDP, tuteladas pelo "dr." Relvas, ministro ao qual se aconselha estar escondido e em silêncio. Tudo vai bem, diz o primeiro-ministro, mesmo quando alguns ministros da coligação parecem não se entender nem ter uma estratégia única de ataque à crise...
Veremos o que vai ser o Orçamento de 2013 e como se comportará a troika nos próximos dias. Seguro, líder do PS, já disse que não quer mais medidas de austeridade. Tem razão. E tudo se passa com a Europa em crise. Com o primeiro-ministro que parece só querer ouvir a chanceler Merkel. Pobre País, dirão os portugueses mais atentos. O futuro que se lhes apresenta não será nada brilhante.
É preciso, portanto, que os portugueses tomem consciência disso e ajam em conformidade.
 Já que não podemos mudar o Mundo, nem sequer a Europa, sejamos ao menos capazes de mudar Portugal.
In, VISÃO, Quinta, 6 de Setembro de 2012