quarta-feira, 30 de outubro de 2013

O QUE OS OUTROS ESCREVEM ...

 

Políticos vs homens de Estado

…Nenhuma discussão é verdadeiramente séria se assentar na premissa de que alguém tem de perder para alguém poder ganhar.
O que se passa em Portugal não pode ser olhado como uma discussão entre os que são a favor do governo e os que são contra, nem entre o público e o privado, nem entre os novos e os velhos...
O que se passa em Portugal tem que ver com a a dignidade de um povo que habita um dos mais velhos países do mundo.

…Impossibilitados de atingir um consenso - de que se fala na entrevista a João Lobo Antunes -, resta-nos a dura tarefa de sermos capazes de estabelecer compromissos. Quando todos ganham, ninguém sai a perder. Mas é claro que precisamos de verdadeiros estadistas que se distingam do comum dos políticos, precisamos de líderes que saibam o significado do bem comum.

Estes são excertos soltos da crónica de hoje de Paulo Baldaia no Diário de Notícias. De facto, em Portugal abundam políticos. Mas faltam homens de Estado, como muito bem já salientou Lobo Antunes.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O QUE OS OUTROS ESCREVEM ...


 1.
"O meu ponto é que em nome do futuro justificamos o abandono dos valores do presente, que é onde as pessoas nascem, vivem e morrem, abandonamos a perspectiva humanista que é a que deve enformar uma sociedade civilizada, a favor de uma abstracção que pode ser uma das variantes de religiões laicas, uma engenharia utópica da sociedade que tanto pode ser a do comunismo como a de uma ideia simplista de que a mão de Deus é “a mão invisível” de Adam Smith, pobre “filósofo natural” que tem que aturar do seu túmulo a mistela que foi feita das suas ideias por mil e um repetidores vindos do pensamento débil dos blogues. Mas, quem, é que vos disse que a mão de Deus é invisível? Ela pode ser misteriosa, mas pelo menos a mão de Cristo era bem visível e falava pelos pobres, os fracos e os humilhados. E quem vos escreve isto é agnóstico, mas não suporta a indiferença com que uma linguagem burocrática e de matter of fact é usada para dar cabo da vida de muitos portugueses."

2.
Como era inevitável começou a discussão do chamado “programa cautelar”, que é a segunda fase do memorando, sem a troika cá, mas em Bruxelas. O “programa cautelar” não é o “segundo resgate”, mas é a coisa mais próxima do “segundo resgate” que há. A questão central é que com a troika em Lisboa, ou a troika em Bruxelas, o mesmo tipo de política vai ser exigida, imposta, obrigada. Até um dia.





3.

Portas é hoje a face mais repulsiva do governo, num campeonato em que concorrem muitos candidatos poderosos. É-o pelo seu papel na crise que atravessamos, que nos custou mais milhões por sua causa, é-o pela obsessão de querer remendar a todo o custo a sua imagem e ser evidente que para o tentar fazer é capaz de quase tudo. Uma dessas cenas que ele representa para as televisões é a de paladino dos “mais pobres”. Para ele, o CDS (ou seja ele próprio) e os seus ministros (os seus clones) tem tido um papel essencial em “proteger os mais pobres”, o que não é de todo verdade. Mesmo que fosse verdade, ele esquece-se de assumir o seu papel em empobrecer muitos mais do que aqueles que putativamente protege. Hoje a defesa dos “mais pobres” é o argumento retórico para combater os pobres, que já são muitos, e os que estão a caminhar para a pobreza, que são muitos mais. 
José Pacheco Pereira, In ABRUPTO, 25.10.13


sexta-feira, 25 de outubro de 2013

O QUE OS OUTROS ESCREVEM ...

A FLEXIBILIZAÇÃO DO DÉFICE E A POSIÇÃO DO GOVERNO
( ... )
O que interessa a Passos Coelho e a Maria Luís é responsabilizar o Tribunal Constitucional pelo incumprimento das metas e simultaneamente pressioná-lo relativamente às novas medidas que fatalmente ele vai ter de apreciar, criando-lhe um clima de público constrangimento que o iniba de aplicar a Constituição.

Essa é que é a “guerra” do Governo, a guerra que ele precisa de manter permanentemente na primeira linha das suas preocupações para poder continuar a fazer guerra aos portugueses, nomeadamente aos funcionários públicos e reformados.

É inacreditável, quase impossível de conceber, o estado a que este país chegou: ter no seu Governo o inimigo número um dos portugueses e de Portugal.

Algo, muito urgentemente, tem de ser feito para impedir que esta situação se mantenha. Algo, muito urgentemente, tem de ser feito para pôr cobro a isto!
POLITEIA

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O QUE OS OUTROS ESCREVEM ...

Domingo, 20 de Outubro de 2013

Uma manifestação diferente

Que grande resposta deu o movimento sindical ao governo e aos seus serviços de segurança nesta manifestação impressionante e executada na forma mais ordeira, quer na Ponte 25 de Abril quer na curiosa e compósita mobilização do norte do país. O ministro Miguel Macedo não dorme esta noite tanta foi a ordem endógena das manifestações. Ordem já há a necessária. Agora falta o Progresso.

Segunda-feira, 21 de Outubro de 2013


Patético.

Paulo Portas perdeu o pé desde a falhada demissão do governo de Passos Coelho. A sua credibilidade desce a cada intervenção que faz. Mas esta de nos dizer que «os pobres não se manifestam», além de ousado e imprevidente, remete-nos para o pior do assistencialismo anti-social. Descanse uns tempos e volte mais tarde, se tiver oportunidade.
 

domingo, 20 de outubro de 2013

O QUE OS OUTROS ESCREVEM ...

A entrevista que faltava, sem excluir as futuras

Ufa! Com prazer o digo. Finalmente uma entrevista séria, com interesse e informativa. A mediocridade da nossa atual liderança política laranja e dos economistas que os apoiam faz-nos ter saudades de um homem político com conteúdo e interesse. A conversa de José Sócrates com Clara Ferreira Alves hoje transcrita no Expresso é esclarecedora e, já agora, muito boa para esfregar na cara de centenas de ranhosos. É um Sócrates descontraído e liberto dos constrangimentos de um cargo político, que, umas vezes indiretamente pelas palavras da própria entrevistadora, outras em discurso direto e frontal, levanta mais algumas pontas do véu sobre o mais repugnante combate político da nossa história contemporânea, protagonizado por um bando de assaltantes enraivecidos e atiradores sem escrúpulos contra um primeiro-ministro. A reposição de alguns factos através da televisão foi importante, mas não teve o detalhe de uma entrevista a um jornal. São de facto abordados, e com extrema simplicidade desmontados, os mais duros momentos do seu percurso pessoal como primeiro-ministro. Terá alguma vez justificação tamanha agressividade? Pela mão da direita mais abjeta e muitas vezes com a cumplicidade ou o silêncio da esquerda radical, o país alucinou.
A dureza daquele período decorreu de uma situação externa inédita – uma crise financeira que nos apanhou no clube da moeda única -, mas sobretudo dos ataques internos e ad hominem contra Sócrates. Mas o entrevistado não assume o papel de vítima nem é por considerá-lo como tal que aqui exprimo o meu agrado pelas considerações político-filosóficas por ele tecidas e pelos seus esclarecimentos. Evidentemente que tem razões de queixa e, a propósito, chama nomes a algumas criaturas, porque legitimamente o enfurecem. Mas basta ver o estado do país. São totalmente merecidos. De resto, lucidez, convicções, intransigência de princípios e vontade de agir continuam a não lhe faltar. Não compreenderei, cem anos que viva, como pôde o país dar-se ao luxo de dispensar este homem.
Diz-nos que foi um erro ter decidido governar sem maioria naqueles agitados anos que se seguiram ao eclodir da crise financeira internacional. Visto à distância, parece claro. Mas a questão é se poderia não o ter feito. Depois de campanhas e campanhas contra a sua pessoa (incluindo conspirações urdidas em Belém), das quais aliás, passados estes anos, ainda perduram fortes ecos, poderia ter ignorado e desbaratado uma vitória eleitoral? Foi apenas humano não o ter feito. Entretanto revela que a crise das transferências de verbas para a Madeira esteve muito perto de provocar a demissão do Governo (a meu ver, já antes a discussão sobre a carreira docente poderia ter sido um bom motivo para bater com a porta). Não o fez e as circunstâncias inéditas a nível europeu devem tê-lo justificado. Mas se o tivesse feito, ficaria provado para todo o sempre como mentem os aldrabões que a toda a hora o acusam de não ter querido cortar a despesa, de ter mesmo entrado num desvario despesista (dando a entender que eles, sim, queriam cortes, o que é uma rotunda mentira). E ficariam com isso impedidos de mentir como fazem agora apostando na curta memória dos portugueses e concentrando os ofuscantes focos no dramático pedido de ajuda externa. Foi essa a pena. Mas, homem, o combate para evitar esta tragédia em infinitos atos que é a Troika foi teu.
Aspirina B

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O QUE OS OUTROS ESCREVEM...



O terceiro Orçamento Gaspar

O Governo meteu-se numa grande baralhada com a feitura do Orçamento de 2014. Mas não beneficiemos o infractor, já que olhar para a baralhada desvia a atenção do essencial. E o essencial é que este é o terceiro Orçamento de Vítor Gaspar. Não só nos princípios fundamentais, como nos factos, pois nem uma vírgula foi mudada da famosa "carta" enviada durante o seu consulado, em Maio de 2013. Mas há diferenças, a principal das quais é o facto de agora a austeridade ser envergonhada e não pomposamente declarada aos microfones do Ministério das Finanças. A vergonha não esconde, todavia, a realidade. E há mais. Agora, como na primeira vez, e ao contrário da segunda, os aumentos de impostos, disfarçados de cortes, aplicam-se apenas a pensionistas e funcionários públicos - e, dentro destes últimos, os de rendimentos mais baixos. E por isso muitos poderão olhar para o lado. Mas, lembremo-nos que um corte de 3 mil milhões de euros afecta a todos. Como afectaram os dois Orçamentos que antecederam este, e cujos efeitos já só não conhece quem não quer. É justo? Há alternativa? Respondamos a isso com as nossas consciências. A única réstia de esperança é que este é, no máximo, o penúltimo Orçamento Gaspar. A única, não: ainda há o Tribunal Constitucional.

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

VAIDADES, SÓ VAIDADES, PARA QUÊ TANTAS VAIDADES?



SOMOS PÓ

 Esta nossa chamada vida, não é mais do que um círculo que fazemos de pó a pó: do pó que fomos ao pó que havemos de ser. Uns fazem o círculo maior, outros menor, outros mais pequeno, outros mínimo: De utero translatus ad tumulum: Mas ou o caminho seja largo, ou breve, ou brevíssimo; como é círculo de pó a pó sempre e em qualquer parte da vida somos pó. Quem vai circularmente de um ponto para o mesmo ponto, quanto mais se aparta dele, tanto mais se chega para ele: e quem, quanto mais se aparta, mais se chega, não se aparta. O pó que foi nosso princípio, esse mesmo e não outro é o nosso fim, e porque caminhamos circularmente deste pó para este pó, quanto mais parece que nos apartamos dele, tanto mais nos chegamos para ele: o passo que nos aparta, esse mesmo nos chega; o dia que faz a vida, esse mesmo a desfaz; e como esta roda que anda e desanda juntamente, sempre nos vai moendo, sempre somos pó.

Padre António Vieira, in "Sermões"

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

CARTA ABERTA A RICARDO



Meu caro:

Desculpa lá, mas conhecemo-nos há bastante tempo e bastante bem e não me dá jeito nenhum tratar-te por Senhor Presidente, embora tenha muito orgulho em que tenhas conseguido lá chegar. Acho mesmo que o mereces e considero que tens feito um óptimo lugar.
A razão por que escrevo estas linhas é a seguinte:
Aquele placard electrónico que mandaram colocar no topo da Avenida está a levantar algumas dificuldades ao meu entendimento.
Em primeiro lugar, não consigo entender em que medida o investimento feito se justifica tomando em consideração o benefício que, de tal decisão, se pode retirar.
Depois, até aceitei inicialmente a decisão, porque o écran foi voltado para o interior do jardim e, pensei que assim permitia que as pessoas que iam por ele circulando ou que se sentavam nos bancos, podiam ir sendo informados sobre o que ia acontecendo ou estava para acontecer na vida da vila.
Quando mudaram a sua posição e voltaram o écran para o exterior, pensei que era uma decisão temporária para o período em que durasse o “Jardim de Papel”, pois as decorações lhe tiravam visibilidade. Mas, a medida que eu julgava temporária revelou-se definitiva e é aqui que o meu entendimento não alcança a razão para semelhante decisão ter sido tomada.
Se não vejamos:
O referido placard contém informações que interessam sobretudo aos residentes na vila.
Aquela entrada da vila que, sem dúvida, é a principal, constitui o ponto de acesso para quem chega e se desloca de automóvel, sendo poucos os que aí circulam como peões.
Se os automobilistas quisessem informar-se vendo as informações do placard, teriam de paralisar as suas viaturas em plena via de circulação, isto para não levantar o problema dos perigos que podiam resultar de tentarem, em movimento, fixar a sua atenção nas informações do écran.
Os próprios peões teriam também de se imobilizarem. de pé e durante bastante tempo, para poderem fazer a leitura de todos os conteúdos daquele equipamento.
Se considerarmos que parte considerável dos que entram na vila, nem sequer são residentes, que lhes interessa que tenha sido inaugurada a casa de Santa Beatriz e a casa Mortuária ou que se esteja a reconstruir a Casa do Governador, em Ouguela? E, penso eu, muito menos lhes interessará saber que espectáculos ou eventos se vão realizar nos próximos dias em Campo Maior.
Na verdade, grande parte dos conteúdos daquela fonte de divulgação de informações e notícias seria muito mais útil e aproveitável para quem passeasse no jardim ou se sentasse nos seus bancos. Mas, para isso, deveria o écran estar virado para o passeio central do mesmo jardim.
Bom, desculpa vir chatear-te com questão tão comezinha. Mas, como te ouvi recentemente dizer que gostarias que as pessoas deveriam sugerir e apontar formas para melhorar o funcionamento das coisas públicas, em vez de estarem sempre a criticar, resolvi dar este meu modesto contributo.

sábado, 5 de outubro de 2013

FAÇAMOS UMA PAUSA


O BALÃO ELEITORAL ESVAZIOU ...

POSTAR SEMPRE TAMBÉM CANSA...

Agora, os dias voltaram a ser iguais aos dias que sempre foram.

Para que a página não fique em branco, deixo-vos com este belo poema, que não perde por ter sucessivas leituras:

 

LIBERDADE

Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original.
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


                          Fernando Pessoa