sexta-feira, 27 de maio de 2011

Dura lex sed lex

Esta frase latina, em título, tentava significar que a lei era lei, mesmo que tivesse que ser dura para aqueles que prevaricavam. 
Aí está uma coisa que dificilmente se poderá aplicar à lei, tal como ela costuma ser cumprida e imposta pelas nossas autoridades. Vejamos o seguinte caso:
Campo Maior, um dia da semana, em hora de plena actividade. Na Rua da Carreira, onde sinais bem evidentes determinam que só se pode estacionar no lado esquerdo, estavam estacionados, no lado direito, em carreirinha, entre a farmácia e as antigas instalações da Caixa Geral de Depósitos, cinco viaturas ligeiras de passageiros e um furgão de carga. Eis que passa uma viatura da GNR com dois agentes, pára entre os carros, a meio da rua, um dos agentes sai, abre a porta da bagageira, dirige-se com uma caixa a um comércio, onde demora alguns minutos. Formou-se uma fila de viaturas atrás, em espera. O agente saíu calmamente, fazendo um sinal de desculpa amável para os condutores dos carros impedidos de avançar. Calmamente ainda, entrou no carro e seguiu viagem.
Como se vê, pela atitude amável, complacente e atenciosa dos senhores agentes, a lei entre nós não é dura. É mesmo tão pouco exigente que se põe mesmo a dúvida de se existe, de facto, lei.

domingo, 22 de maio de 2011

Lembram-se deles?

Um deles aponta o rumo a seguir. Até onde conseguiram chegar?

terça-feira, 17 de maio de 2011

A falta de memória deste tempo que é o nosso

Na sua coluna O tempo e a memória, no DN de 17 de Maio, Mário Soares num texto intitulado Portugal vai mal mas a União Europeia, pior, escreve que uma das causas do pessimismo dos portugueses perante a situação actual, se deve ao "autismo de alguns políticos e economistas".
Acho que tem inteiramente razão e leva-me a acrescentar que esse autismo é tão grande que os leva a ignorarem e apagarem da sua memória factos bem recentes que se tornam indispensáveis para compreender a situação com que nos confrontamos. Basta ver o chocante realismo com que, no documentário Inside Job (A Verdade da Crise), são explicadas e desmascaradas as manobras da incrível ganância e total  falta de escrúpulos com que os tubarões  dominaram o jogo financeiro a nível mundial, para percebermos como as encenações politiqueiras que se estão a desenvolver no cenário eleitoral em que esta inúteis e inexplicáveis eleições, lançaram o nosso país. 
Tudo vale para se atacarem, para ganhar vantagem, para assegurar esta insana vontade de poder que os leva a uma corrida louca que parece querer arrastar-nos a todos par o abismo.
De repente uma amnésia total varreu tudo do espírito desta gente. Até parece que não houve no, tão próximo ainda, ano de 2008, uma crise global em resultado do desabar do sistema financeiro com um custo de mais de 20 triliões de dólares de que resultou o desemprego e que implicou a perda das suas casas e de outro bens essenciais, de muitos milhões de pessoas.
Parece que nada disto foi real. O que interessa é apontar a dedo a responsabilidade e a culpa dos adversários para com isso conseguir a sua desmoralização e ganhar assim a votação que lhes assegure a pose do almejado poder.
Como se todos eles não tivessem sido "cegos, surdos e mudos" para os avisos de alguns, muito poucos, aliás, que alertavam para o perigo de embarcar na barca de sonho da vida fácil, na obtenção do máximo de vantagens com o mínimo de esforço...
E a verdade é esta: sem consciência dos erros e sem assunção de culpa, não há que esperar regeneração.
Pouco há a esperar de quem entende a política apenas como ambição e sem qualquer preocupação para analisar as causas a fim de poder engendrar as melhores maneiras de enfrentar os problemas.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Penso que os políticos são sobretudo ignorantes. Eles próprios não receberam formação cultural e resistem a ela como a qualquer coisa que não dominam.

Hoje só interessa o imediato e, como tal, as pessoas ignoram tudo o que tenha passado há mais de cinco anos. 
Para haver responsabilidade tem de haver um equilíbrio entre o que vem de trás e aquilo que podemos fazer.
Estas frases foram proferidas por Vitorino Magalhães Godinho que morreu no passado dia 26 de Abril. Quase ninguém deu pela sua morte. Como haviam alguém de dar por isso?
Afinal não era um colunável, um desses famosos que enchem notícias de jornais, revistas e televisões.
Quem era, ao fim e ao cabo, Vitorino Magalhães Godinho? - Era apenas um historiador português que tinha ensinado em algumas das mais notáveis universidades por esse vasto mundo, que ajudara a fundar a Universidade Nova de Lisboa, onde leccionara a minha e muitas das novas gerações. Escreveu obras como Os Descobrimentos  e a Economia Mundial, A Expansão Quatrocentista Portuguesa e A Economia dos Descobrimentos Henriquinos, entre muitas outras. Nada de muito importante, já se vê. Apenas alguns livros que o tornam seguramente um dos maiores historiadores portugueses do século XX e, muito provavelmente, um dos maiores histotiadores portugueses de todos os tempos. 
A maneira como foi tão ignorada a sua morte, dá pleno sentido à frases que acima se transcrevem.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Tudo o que é demais...


No Diário de Notícias do passado dia 17 de Abril, José Bandeira colocou os dois velhotes, habituais personagens da sua banda desenhada Cravo e Ferradura, na seguinte situação dialogante: Estão sentados num banco de jardim e um deles lendo o jornal, diz - Marinho Pinto diz não compreender como é que os portugueses ainda votam e apela a uma greve à democracia; ao que o outro responde - Ainda me lembro como essas coisas se fazem, jovem; o primeiro passo é eleger um ditador. 

- O Dr. Marinho, controverso e polémico bastonário da Ordem dos Advogados, mereceu o irónico reparo. Porque, desta vez foi longe demais, porque entrou em contradição com a atitude desassombrada, corajosa e pertinente que costuma assumir no desempenho das suas funções. 
Com esta informação colocou-se ao nível daquele senhor que acaba de declarar que só aceitará ser nomeado deputado se for eleito presidente da Assembleia da República. Ou mesmo da outra senhora que, sendo responsável máxima de um partido democrático, defendeu que melhor seria que se suspendesse a democracia por seis meses. 
Os erros políticos não se corrigem pela abstenção, pelo desinteresse e pela desistência. Corrigem-se pela intensificação da participação cívica, empenhada, consciente e responsável. 
Porque é que todos os populistas apostam no adormecimento da participação? Porque é que o destino fatal de todos oa excessos populistas tendem em desaguar em processos nada democráticos?
Que pessoas pouco ou nada informadas embarquem nestes ditos e posições, compreende-se embora se lamente...
Mas, do Dr. Marinho, temos de esperar e mesmo exigir muito maior sentido de responsabilidade e maior esclarecimento de opinião.

domingo, 1 de maio de 2011

Acerca da "mediocridade"

Alguém que muito estimo, falava-me com desespero de uma criatura que, por se ter em grande consideração, devido ao sucesso alcançado através da bajulação com que distingue os poderosos, passa o tempo a tramar a vida a todos os que se atravessam no seu caminho, sobretudo aos que se recusam a prestar vassalagem à sua insaciável ambição de protagonismo.

Virgílio Ferreira formulou um dia esta acutilante e esclarecedora pergunta:
Como é que um tipo que é medíocre, há-de saber  que é medíocre, se ele é medíocre?

Porém, acontece por vezes que os medíocres conseguem ter uma certa habilidade conspirativa, sabendo conduzir artimanhas convenientes aos seus interesses e maquinações. A falta de princípios morais e a debilidade da sua consciência ética torna-os capazes das maiores vilezas que surpreendem devido aos fracos dotes de inteligência de que são dotados. Eles, para si mesmos, tomam isto como sinal de esperteza.
Mas, na verdade, como não são capazes de prever as consequências dos actos que desencadeiam, são também incapazes de avaliar os efeitos que eles provocam e as reacções que desencadeiam.
Mas, porque mais do que sucesso, se trata apenas de conseguir obter algumas vantagens, os medíocres estão condenados a não alcançarem o sucesso, porque este não lhes é acessível devido à mediocridade da sua natureza.