segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O QUE OS OUTROS ESCREVEM ...


 1.
"O meu ponto é que em nome do futuro justificamos o abandono dos valores do presente, que é onde as pessoas nascem, vivem e morrem, abandonamos a perspectiva humanista que é a que deve enformar uma sociedade civilizada, a favor de uma abstracção que pode ser uma das variantes de religiões laicas, uma engenharia utópica da sociedade que tanto pode ser a do comunismo como a de uma ideia simplista de que a mão de Deus é “a mão invisível” de Adam Smith, pobre “filósofo natural” que tem que aturar do seu túmulo a mistela que foi feita das suas ideias por mil e um repetidores vindos do pensamento débil dos blogues. Mas, quem, é que vos disse que a mão de Deus é invisível? Ela pode ser misteriosa, mas pelo menos a mão de Cristo era bem visível e falava pelos pobres, os fracos e os humilhados. E quem vos escreve isto é agnóstico, mas não suporta a indiferença com que uma linguagem burocrática e de matter of fact é usada para dar cabo da vida de muitos portugueses."

2.
Como era inevitável começou a discussão do chamado “programa cautelar”, que é a segunda fase do memorando, sem a troika cá, mas em Bruxelas. O “programa cautelar” não é o “segundo resgate”, mas é a coisa mais próxima do “segundo resgate” que há. A questão central é que com a troika em Lisboa, ou a troika em Bruxelas, o mesmo tipo de política vai ser exigida, imposta, obrigada. Até um dia.





3.

Portas é hoje a face mais repulsiva do governo, num campeonato em que concorrem muitos candidatos poderosos. É-o pelo seu papel na crise que atravessamos, que nos custou mais milhões por sua causa, é-o pela obsessão de querer remendar a todo o custo a sua imagem e ser evidente que para o tentar fazer é capaz de quase tudo. Uma dessas cenas que ele representa para as televisões é a de paladino dos “mais pobres”. Para ele, o CDS (ou seja ele próprio) e os seus ministros (os seus clones) tem tido um papel essencial em “proteger os mais pobres”, o que não é de todo verdade. Mesmo que fosse verdade, ele esquece-se de assumir o seu papel em empobrecer muitos mais do que aqueles que putativamente protege. Hoje a defesa dos “mais pobres” é o argumento retórico para combater os pobres, que já são muitos, e os que estão a caminhar para a pobreza, que são muitos mais. 
José Pacheco Pereira, In ABRUPTO, 25.10.13


Sem comentários:

Enviar um comentário