segunda-feira, 24 de maio de 2010

Carta aberta, sem endereço

Meu caro: 
Conheço-o de há muito tempo mas, talvez você não saiba, eu sempre tive uma franca e leal simpatia a seu respeito. O que os outros chamavam tagarelice, eu considerava que era o muito entusiasmo que punha em todas as coisas em que participava. Quando o acusavam de pouco reflectido, falando muito do que mal sabia, eu achava que era a tentativa de convencer os outros daquilo que tinha, mal ou bem, como certezas.
Acima de tudo, tive-o sempre por homem de bem, sério, de boas contas e fiel aos seus amigos. Por vezes exagerava na tendência que tinha para perdoar ofensas e passar adiante. 
Mas, meu caro, em política as coisas são aquilo que parecem, como já dizia o ditador de má memória. E, por mais seguros que estejamos de agir de boa-fé e de boa mente, isso não conta, se aos outros parecer que terá motivos menos confessáveis. É que, quando estamos em certas posições, os nossos actos afectam todas as pessoas que nessas situações estão envolvidas.
Por outro lado, há pessoas tão marcadas pelas atitudes tomadas num passado próximo, que elas acabam por prejudicar aqueles que ingenuamente se empenham numa impossível regeneração. Só o tempo limpa certas coisas. Por isso é que se diz que os políticos que falham ou que ficam manchados pelos seus erros, têm de  se conformar com a longa travessia do deserto. Isto quer dizer que só sendo esquecidos os erros, poderão regressar.

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