segunda-feira, 27 de maio de 2013

RAZÕES DE UMA REVOLTA

Estamos nas mãos de uma gente que não se recomenda. E que não vê, ou não que ver a tragédia para que nos estão a encaminhar.
Miguel Sousa Tavares


A mim pouco me importa quem cedeu ou quem impôs na questão de fundo que se refere às pensões e aos salários dos funcionários do Estado.
A mim o que mais me incomoda é ver como princípios fundamentais são ignorados, atropelados e modificados com o maior descaramento e com tão grande falta de vergonha.
Então, os que durante uma vida confiaram que trabalhavam para uma entidade que julgavam acima de qualquer suspeita, constatam agora que estão a lidar com gente que não olha a meios para atingir os sórdidos objectivos ditados pelas suas alucinadas convicções?
Que é feito do Estado “pessoa de bem” em que todos descansavam a ponto de lhes confiarem parte do que ganhavam, na presunção de que estavam assim a acautelar os dias da velhice em que já não poderiam, nem deveriam trabalhar?

Que me importa que haja um Portas que afirma não consentir ou um Passos que sem afirmar vai fazendo e impondo o que muito bem entende sem pensar, um segundo que seja, nos danos irreparáveis que as suas acções vão provocar?

Francamente! Estes governantes, que temos consentido que nos desgovernem, parecem rapazinhos inconscientes a disputarem um qualquer jogo de computador obcecados na sede de o ganharem. O problema é que o jogo destes desmiolados é vida real de todos nós.

Talvez esta maneira de ver as coisas pareça muito exagerada. Mas não será que as coisas são tão loucas que não podem ser consideradas segundo um modo normal e só as podemos entender como este absurdo em que as nossas vidas se estão a transformar?

O que eu sinto pessoalmente é que tenho sido obrigado a confiar no Estado e agora constato que se quebrou a confiança que nele depositei e que ele se tornou uma ameaça para a minha vida futura. E mais: tenho consciência plena de que, no meio desta tragédia, ainda sou dos menos ameaçados.

E agora vou fazer o quê? Processar o Estado que me está a vigarizar? Queixar-me como? E a quem?

E sabem o que mais me revolta no meio de tudo isto? É constatar que ainda há tantos que continuam a pensar que esta gente está a fazer tudo isto, porque esta é a única maneira de nos salvarmos. Mas, afinal, para nos salvarmos de quê?

segunda-feira, 20 de maio de 2013

QUE GRANDES FILHOS-DA-MÃE!



Sim, eu sei que o título não devia ser bem este. De facto, devia ser como vocês ficarão a pensar quando acabarem de ler os textos que seguem e que foram extraídos da comunicação social, nos últimos dias.
Porém, como sou moderado por temperamento e bem-educado por formação, fica mesmo assim: Filhos-da-mãe!
Até porque algumas mães podem não ter culpa de que os filhos se tenham tornado os safados que são.

Títulos no EXPRESSO de 18 de Maio de 2013:

Governo corta 4% nos salários da Função Pública
Poupança salarial de 378 milhões de euros será permanente
Pensionistas do Estado que passaram à reforma até 1993 enfrentam corte de 11,1%
Esforço orçamental previsto para 2014 não deixa margem ao governo para simplesmente largar a taxa sobre as pensões
Há instabilidade nas escolas devido aos cortes


Outros títulos seguidos de notícia no mesmo jornal:

BANIF PAGA PRÉMIO MILIONÁRIO A GESTORA

COM BANCO INTERVENCIONADO, CONCEIÇÃO LEAL GANHA 982,3 MIL EUROS, MAIS DO QUE QUALQUER OUTRO GESTOR BANCÁRIO

Conceição Leal recebeu o triplo do que ganhou o presidente do próprio banco…
Trata-se do Banif, do qual o Estado detém 92,2%, pois o Estado português injectou no Banif 1,1 milhões de euros, segundo acordo firmado em 31 de Dezembro de 2012.
Parte desse ganho, ou seja, 533,7 mil euros, resulta da atribuição de um prémio de gestão do Banif Banco de Investimento Brasil. Os negócios deste banco no Brasil correram mal a ponto de as operações no Brasil estarem à venda.
O Brasil foi a grande aposta do Banif no exterior, mas a operação não correu bem e o banco está de saída do país. Vendeu a corretora à Caixa Geral de Depósitos, banco do Estado que teve um prejuízo elevado em 2012.
Os prejuízos do grupo Banif totalizaram 69 milhões de euros, no primeiro trimestre do ano.

REMUNERAÇÕES DE OUTROS GESTORES BANCÁRIOS EM 2012:

Ricardo Salgado (Pres. BES): 552 mil euros; Fernando Ulrich (Pres. BPI): 490,5 mil euros; José Maria Ricciardi (Pres. BES Investimento): 460 mil euros; Nuno Amado (Pres. BCP): 366,1 mil euros; Jorge Tomé (Pres. BANIF): 316,2 mil euros.

segunda-feira, 13 de maio de 2013

ACERCA DA LEI



Não existe coisa alguma que seja legítima só para alguns
E ilegítima, portanto, para os outros.
A Lei estende-se igualmente por toda a parte e para todos
Como o ar que governa em todos os lugares
E a infinita luz dos Céus.

Empédocles, filósofo grego que viveu em Agrigento, entre 483 a. C. e 423 a. C., escreveu estes versos.
A sua concepção do Universo baseava-se na combinação de quatro elementos essenciais: Terra; Água; Ar; Fogo.
Sobre estes elementos actuavam dois princípios motores: o amor que os agrega e harmoniza; o ódio que os desagrega e os põe em conflito provocando a desordem.

A sua concepção está muito marcada pelo pensamento originário, muito antigo, do tempo em que viveu, há mais de 2.500 anos. Mas, há na filosofia verdades que são eternas devido ao modo como radicam no conhecimento profundo da natureza humana.
Ora, se é verdade que o homem consegue fazer mudar a natureza das coisas a uma velocidade por vezes vertiginosa, tem uma grande dificuldade em mudar a sua própria natureza. Por vezes, temos a impressão de que, à nossa volta, tudo está constantemente em mudança, menos a nossa alma. 
Repare-se como, hoje, século XXI, em que tanto conhecemos acerca do Universo em que estamos inscritos, existem ainda tantos homens que persistem em desconhecer a verdadeira natureza da Lei. Ou seja, no que respeita à concepção da Lei, ainda há hoje quem tenha dela um conceito muito imperfeito se comparado com o conceito que Empédocles expressou nos belos versos transcritos no começo deste texto.
E, o pior de tudo: alguns desses homens arvoram-se em decisores e julgadores dos direitos dos outros homens.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

RETRATO ESCRITO

É a criatura que há, o Presidente que se arranja, irremissível e sombrio. Medíocre, ressentido, mau-carácter incapaz de compreender a natureza e a magnitude histórica da revolução. 
(...) a defesa da direita mais estratificada está-lhe no sangue e na alma, além de manter, redondo e inamovível, um verdete avassalador pela cultura. 
O homem confunde Thomas Mann com Thomas More; ignora que "Os Lusíadas" são compostos por dez cantos; omite o nome de José Saramago, por torpe vingança, na recente viagem à Colômbia, enquanto o Presidente deste país nomeou o nobel português com satisfação e realce; não se lhe conhece o mais módico interesse pela leitura; e, quando primeiro-ministro, recusou à viúva de Salgueiro Maia uma pensão que, jubiloso e feliz, atribuiu a antigos torcionários da PIDE. Conhece-se (...) a inventona das escutas em Belém; (...) a confusa alcavala com o BPN, com a qual auferiu uns milhares de euros; (...) contrariou uma tradição, por ódio e rancor,  e não condecorou José Sócrates quando este saíu de primeiro-ministro. É uma criatura sem amigos; dispõe, apenas, de instantes de amizade interesseira, Nada mais. 
(...) Parece julgar-se a rainha da Inglaterra, considerando o papel superior que a si mesmo se atribui.(...)

[Frases extraídas  de um texto de Baptista-Bastos, publicado no Diário de Notícias de 1 de Maio de 2013, página 9]

Pois é! Mas foi este o homem que o povo escolheu para ser Presidente de todos os portugueses. 
A democracia tem destas coisas ... Mas também tem as suas virtudes: Também permite que possamos escrever, ler e dizer estas coisas sem sermos levados de nossas casas, por esbirros que nos batam à porta altas horas da madrugada, como acontecia em tempos de ditadura.