A União Europeia, que há três anos parecia ser um
farol de progresso e um modelo para o mundo, entrou em descrédito, com as suas
instituições apáticas e paralisadas. Começou com a crise grega, seguiram-se a
irlandesa, a portuguesa e a cipriota, agora a espanhola e a italiana, depois
talvez a francesa. Resta a Alemanha, da chanceler Merkel, que corre de um país
para o outro, sem saber o que deve fazer. Só em agosto, mês de férias, foi duas
vezes à China...
Trata-se da crise do euro e da possível
desintegração europeia, pior do que a crise de 1929, que deu origem à II Guerra
Mundial. É para aí que caminhamos? O certo é que os responsáveis institucionais
estão paralisados - bem como os países vítimas - sem saber o que fazer. Estão à
espera do Godot...
Portugal, infelizmente, também vai mal. O governo
neoliberal, mais papista do que a troika, tem imposto medidas de austeridade
devastadoras para a população, com a intenção de diminuir o défice. Mas mais de
um ano depois, a situação ficou muito pior do que estava. A recessão aumentou,
com a falência de empresas e fábricas, o País empobreceu, a classe média está a
ficar de tanga, o desemprego cresceu devastadoramente e, ao contrário do
esperado, a previsão do défice de 2012 até aumentou dos 4,5% para os 5,8% ou os
9,5% do PIB, segundo dizem os jornais.
Além disso, o primeiro-ministro parece muito
contente com a acção ou inacção do Governo, como resultou do discurso aos seus
jovens correlegionários da Universidade de Verão. Para o ano tudo vai estar
ainda melhor, disse. Lembrei-me do Pangloss de Voltaire que estava sempre no
melhor dos mundos.
ai haver privatizações - graves como disse, e
bem, a ministra da Justiça - dos Correios e Telégrafos, TAP, Estaleiros de
Viana, Águas de Portugal, etc. Medidas a retalho, não se sabe quem as paga e
por quanto.
Os buracos financeiros - e tantos há - não foram
até agora pagos, nem se sabe o que será feito deles. Parece que o melhor é não
falar disso. Nem da RTP e da RDP, tuteladas pelo "dr." Relvas,
ministro ao qual se aconselha estar escondido e em silêncio. Tudo vai bem, diz
o primeiro-ministro, mesmo quando alguns ministros da coligação parecem não se
entender nem ter uma estratégia única de ataque à crise...
Veremos o que vai ser o Orçamento de 2013 e como
se comportará a troika nos próximos dias. Seguro, líder do PS, já disse que não
quer mais medidas de austeridade. Tem razão. E tudo se passa com a Europa em
crise. Com o primeiro-ministro que parece só querer ouvir a chanceler Merkel.
Pobre País, dirão os portugueses mais atentos. O futuro que se lhes apresenta
não será nada brilhante.
É preciso, portanto, que os portugueses tomem
consciência disso e ajam em conformidade.
Já
que não podemos mudar o Mundo, nem sequer a Europa, sejamos ao menos capazes de
mudar Portugal.
In, VISÃO, Quinta, 6 de Setembro de 2012