sexta-feira, 29 de julho de 2011

Resultado Líquido

A revisão em baixa, para a categoria de ‘lixo’, do rating da dívida de longo prazo de Portugal é mais do que um insulto da Moody’s ao Estado e aos portugueses que se preparam para dar o seu contributo, com sacrifícios, para a saída da crise.
É uma canalhice, comparável à metáfora do pontapé sobre quem está a tentar erguer-se do chão. É, também, até ver, a demonstração de que aqueles que foram em boa parte responsáveis pelo crise financeira de 2008, que levou à crise das dívidas em que estamos, são impunes. Pôr Portugal num nível de risco semelhante ao do Bangladesh, por exemplo – como fez a Moody’s –, não revela incompetência. Revela má-fé, porque (como todo o respeito pelo país africano), as realidades não são comparáveis.
Há meses, quando o rating foi revisto em baixa, o Presidente da República apelou à calma, explicando que de nada servia protestar. O país, disse Cavaco, deveria focar-se nas reformas e não nos protestos. E tinha razão: na altura, tudo indicava que o país estava sem rumo. Mas, agora, o mesmo Presidente – que sabe do que fala – manifestou-se indignado com a canalhice. O país está a entrar numa nova era, ao contrário da Moody’s, que se mantém na era medieval, quando os senhores poderosos tudo podiam fazer sem consequências. Os EUA estão, potencialmente, a um mês de entrar em default. Mas, com os states, as agências não se metem, pois sabem que quem se mete com os states, leva.
Faz, portanto, sentido protestar. Mais: faz sentido dizer basta. Está na hora de a Europa acordar e de, concertada, fazer o mesmo que o BES fez há tempos com a Fitch: rasgar os contratos com as agências, que sem clientes não vivem. Enquanto for impune, será esta gente a ‘mandar’ no Mundo. E não há nada pior do que ser governado por tiranos. 

por Ricardo David Lopes, Sol, 13/7/2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Precariedades...

“Os movimentos de trabalhadores precários solicitaram hoje uma reunião urgente com o ministro da Solidariedade e da Segurança Social, pedindo a “reavaliação” do processo de recuperação de dívidas à Segurança Social que “afecta de forma dramática milhares de falsos recibos verdes”.

“A carta com o pedido de reunião urgente - assinada pelos movimentos “Precários Inflexíveis”, ”FERVE – Fartos/as d’Estes Recibos Verdes” e “Plataforma dos Intermitentes do Espectáculo e do Audiovisual” – foi hoje enviada ao ministro, Pedro Mota Soares.
 O documento refere que está decorrer “neste momento uma massiva operação de recuperação de dívidas à Segurança Social, com notificação dos devedores e aplicação de métodos coercivos de cobrança” e que “os movimentos de trabalhadores precários não podem deixar de demonstrar a sua indignação e preocupação com a forma como este objectivo está a ser desenvolvido”. Segundo a mesma carta, “é inegável que a esmagadora maioria dos trabalhadores considerados independentes são, na realidade, trabalhadores a quem vem sendo negado há décadas o devido contrato de trabalho”, acrescentando que “as situações de falsos recibos verdes correspondem a um grave prejuízo para os trabalhadores”.
(@LUSA, 13 de Julho de 2011)

Muitos dos que agora se sentem feridos na sua condição de trabalhadores, não terão ainda entendido que a precariedade no trabalho se foi instalando porque, desde há muito tempo, muitos de nós, aceitaram voluntariamente um outro tipo de precariedade que criou as condições para que esta se instalasse: A precariedade da cidadania. Os que comodamente se foram desligando dos seus deveres enquanto cidadãos, pois a política era algo que não lhes dizia respeito, abriram o campo para que, nos cargos políticos se instalassem os que agora legitimaram a precariedade no trabalho. Sempre que muitos se omitem de escolher, alguns outros aproveitam para escolher os que melhor servem os seus próprios objectivos e interesses. E não vale dizer que são todos iguais. Porque a verdade é que o desinteresse de muitos é que vai abrindo caminho àqueles que pior dano nos podem causar. Deste modo, eles ocupam lugares onde podem determinar as nossas condições de vida criando leis que vão limitando os nossos direitos.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Impostos ou despesas?

Passos Coelho não poupou nada ao erário público com a viagem em classe económica na TAP (o bilhete é-lhe oferecido pela companhia), mas teve uma daquelas atitudes simbólicas, de teor populista (nada irrita mais o povo do que as mordomias com que os políticos se têm aboletado), que pode condicionar o resto da Função Pública, e até das empresas do Estado, nas viagens de trabalho.
Por mim, não aquece nem arrefece. Quem me dera poder viajar em primeira. E não me comovo demasiado com atitudes populistas.
Mas esta ida ao 13.º mês, depois de desmentida antes das eleições, já me deixa com dúvidas sobre se ainda vale a pena acreditar em políticos do chamado arco governativo. É que, em vez de cobrar mais impostos, o Governo poderia empenhar-se em reduzir a despesa pública. O fim dos governadores civis também não me diz muito. Fica-me o horror de os ver substituídos por muito mais pesadas e dispendiosas instituições de poder regional.
O que está comprovado ser caro e desnecessário é a avalanche de gente que enche os gabinetes governativos, com funções sobrepostas às da Função Pública. Fico à espera de saber quanto se corta aí, em pessoas e dinheiro – até porque será uma forma de dar também maior produtividade à Função Pública, e seriedade ao trabalho dos gabinetes ministeriais.

Por Pedro d'Anunciação, Sol, 13/72001

terça-feira, 19 de julho de 2011

Afinal quem manda no quê?

Máquina do ministério impõe que escolas organizem novo ano lectivo sem saber quais são as mudanças.

A educação está a duas velocidades. De um lado, o ritmo do novo ministro, Nuno Crato, que até ao fim deste mês irá informar as escolas das alterações que pretende introduzir no próximo ano lectivo; do outro, o calendário da Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação (DGRHE), que impõe aos estabelecimentos de ensino prazos para decidirem sobre a organização curricular.
Como a máquina do Ministério da Educação não espera por Nuno Crato, terá de ser o próprio ministro a correr atrás dessa mesma máquina se quiser acompanhar o ritmo. O i quis saber se os prazos da DGRHE são compatíveis com as mudanças a introduzir já em Setembro e fonte da tutela explicou que estão a ser feitos "todos os esforços nesse sentido".
…………….
O calendário da Direcção-Geral dos Recursos Humanos da Educação impôs às escolas rotinas iguais às dos anos anteriores e isso poderá vir a ser um "um enorme obstáculo" para as direcções de escolas e agrupamentos, caso os planos de Nuno Crato impliquem "grandes mudanças" na reorganização dos estabelecimentos de ensino, adverte o dirigente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE).

Jornal i, 13/7/2011

domingo, 17 de julho de 2011

A "Verdade" e as verdades

Apetece-me repetir aquela divertida frase que dizem que terá dito o grande artista da bola João Vieira Pinto: O clube estava à beira do abismo, mas tomou a decisão certa: deu um passo em frente. 
De certo modo, foi isso o que fez o nosso primeiro-ministro, uns dias atrás, quando declarou que o governo anterior lhe deixou um "desvio colossal" no défice, que estava oculto.
Ora bem! Como estamos à beira do precipício, o nosso primeiro resolveu dar um passo em frente, pois é sabido que, afirmações deste tipo provocam sempre reacções indesejáveis nos  mercados financeiros. Ainda por cima, afirma com convicção que fez o que devia ter feito, subentendendo que, não sendo ele como Sócrates, não mente. 
Primeiro que tudo levanta-se uma questão:  A tão falada troika analisou as contas públicas e não deu pelo "desvio colossal"? Então, como o nosso primeiro não mente, levanta-se outra questão: a troika, ou foi incompetente no cálculo, ou foi cúmplice na mentira do ex-primeiro Sócrates.
Ora vamos lá ver, porque parece haver nesta questão algo que não bate certo. Porque, se o nosso primeiro se enganou, então podemos concluir que lhe sobra em presunção o que lhe falta em competência. Se o nosso primeiro está certo, então não há razão para levar a sério as determinações propostas pela troika.  
Mas, se for este o caso, mesmo assim, o nosso primeiro acabou de dar uma enorme prova de imprudência e de falta do bom-senso que convém ter quem assumiu tão alta responsabilidade na governação. Se é certo que se deve sempre tomar em consideração a "Verdade", todos nós temos que considerar que há verdades que mais vale calar. Se há verdades que devem ser ditas porque esclarecem, há verdades que devem ser reservadas porque, ditas, só vão agravar mais o que já está muito complicado. É grave que um primeiro de Portugal não tenha este principio em consideração.




sexta-feira, 15 de julho de 2011