Quando a Grécia conseguiu
algumas novas condições, incluindo a redução dos juros, alterações de
maturações, mudanças de prazos e, na prática, uma reestruturação da sua dívida,
o governo português fez saber que queria que essas condições também fossem
aplicadas a Portugal. Jean-Claude Junker disse que tal iria
acontecer. Dois dias depois a Alemanha falou e o presidente do Eurogrupo
explicou-se: "Percebi mal a pergunta e nem sequer a ouvi". E o
ministro Vítor Gaspar, dando o dito por não dito, afirmou que as
informações que ele próprio repetira, ao vivo, no Parlamento, tinham afinal
sido descontextualizadas pela imprensa.
Esta semana, o verdadeiro presidente
da do Eurogrupo, o ministro das Finanças alemão Wolfgang Schaeuble,
informou que tal seria um desastre para Portugal. Foi acompanhado por outros
ministros europeus. Aconselhou: não queiram ser comparados com a Grécia. A
Grécia é caso único e a aplicação da dieta está a correr muito bem para vocês.
Estando a correr tudo bem a Portugal - como os portugueses podem observar e os
números indicam -, terão de continuar a ser punidos com juros de assalto.
Porquê? Porque em Portugal ainda há algum dinheiro para sacar. Na Grécia é que
não.
Ou seja, Schauble explicou
que Portugal deve ser punido por ser "bom aluno". Como muitos
têm dito e escrito, ser obediente tem prejudicado o País. Agora isso foi
explicado com todas as letras. Portugal terá piores condições do que a Grécia
porque tem dito à Europa e ao mundo que tudo está a correr às mil maravilhas.
Até vai brevemente regressar aos mercados, diz Schaeuble em delírio.
A reação de Pedro Passos Coelho,
apesar de absurda, foi a que se esperava. Perante a lisonja, abanou a cauda e
deu a pata. Isto foi um elogio e devemos ficar muito satisfeitos. Ficamos
a pagar juros mais altos do que a Grécia e não se fala mais nisso. Porque ser
melhor do que a Grécia e merecer a condescendente simpatia alemã não sai de
borla.
Vou tentar pôr isto de uma forma
crua. Estou-me nas tintas para os elogios do senhor Schaeuble. Os
elogios não criam emprego. Não salvam empresas. Não resolvem o problema do
défice. Não impedem os cortes na educação e na saúde. Não reduzem os impostos
que eu pago. Os elogios não pagam dívidas. Podem alimentar o ego
provinciano de um primeiro-ministro sem firmeza, que faz voz grossa para quem o
elegeu e é incapaz de fazer uma exigência, pequena que seja, em Bruxelas. Mas pagar
dívidas em piores condições e com juros mais altos, para confirmar um elogio,
não é motivo de satisfação para ninguém que esteja no seu prefeito juízo.
Se a simpatia do senhor Schaeuble
pelo senhor Coelho me obriga a pagar mais impostos prefiro a sua
antipatia.Quando negociamos com alguém é pouco importante se do lado de lá está
alguém que gosta de nós. Se formos bons negociadores, é até provável que nos
venha a detestar. Talvez assim nos respeitem. E isso é coisa que Passos Coelho
nunca conseguirá: ser respeitado. Quem mendiga apenas consegue migalhas.
Passos nem isso. Satisfaz-se com uma festa na cabeça.
Daniel Oliveira,
publicado no Expresso Online