segunda-feira, 29 de abril de 2013

ENTÃO, COMO É QUE É?



"Ninguém me encomendou o sermão, mas precisava de desabafar publicamente. Não posso mais com tanta lição de economia, tanta megalomania, tão curta visão do que fomos, podemos e devemos ser ainda, e tanta subserviência às mãos de uma Europa sem valores."

Miguel Torga – 1993

Lê-se e fica-se perplexo. Porque, das duas, uma: ou andamos sempre em círculo, tipo “pescadinha de rabo na boca”; ou estamos a andar para trás e tão distraídos que nem damos por isso?
Caramba! Ainda se fosse uma estratégia de dar três passos à frente para depois recuarmos dois, ainda ficávamos com um de avanço…
Ou será que tudo estava já combinado e nós nem demos por isso? O texto que segue deixou-me a pensar...

"Pensaram sempre em atacar salários, pensões, reformas, rendimentos individuais e das famílias, serviços públicos para os mais necessitados e nunca em rendas estatais, contratos leoninos, interesses da banca, abusos e cartéis das grandes empresas. Pode-se dizer que fizeram uma escolha entre duas opções, mas a verdade é que nunca houve opção: vieram para fazer o que fizeram, vieram para fazer o que estão a fazer."

José Pacheco Pereira

Ah! Pacheco! Que grande radical e extremista que tu me saíste! Já nem consegues reconhecer a grande abnegação, o enorme espírito de sacrifício dos que tudo fazem para bem do Povo e para salvação da Pátria?

segunda-feira, 22 de abril de 2013

TERROR É TERROR

Martin Richard tinha oito anos. É uma das três vítimas mortais dos atentados de Boston. A mãe ficou ferida na cabeça, a irmã perdeu uma perna. Estão as duas em estado muito grave, aliás como vários dos 176 feridos causados pela dupla explosão de segunda-feira (15 de Abril) na zona da meta da Maratona de Boston. Até agora não se conhece o autor ou autores da carnificina. Mas através do pequeno Richard percebe-se o crime que o ataque, qualquer que seja a motivação, representa. A América está revoltada e o Presidente Obama falou de "ato terrorista, cobarde e hediondo", garantindo que a justiça far-se-á sentir.
Foi um ato de terror. E não apenas contra Martin, a sua família ou a América. A Maratona de Boston atrai milhares de pessoas, de dezenas de países. E tem forte cobertura mediática. Quem matou, usando panelas carregadas de explosivos, e pregos, queria assustar o mundo.

(Editorial do DN, 4ª-feira, 17 de Abril de 2013, p. 8)

Quando chegava a casa ... Liz Norden recebeu um telefonema. Era de um dos filhos, Paul, 31 anos. Tinha sido ferido e ia a caminho do hospital. Não sabia do irmão que estava com ele momentos antes da explosão.
O irmão, J.P. 33 anos, tinha sido socorrido quase ao mesmo tempo e fora levado para outro hospital da cidade ... Liz descobriu que os filhos tinham tido a mesma pouca sorte: uma perna amputada.

(Notícia do DN, 4ª-feira, 17 de Abril de 2013, p. 7)

Não me peçam que ignore o que se passa para além da zona de conforto em que se desenvolve a minha vidinha. 
Não me peçam que ignore aquilo que de trágico acontece, ainda que aconteça muito longe do lugar onde me situo.
Não me peçam que me encolha na concha do meu bem-estar e na carapaça da minha indiferença. 
Sempre que alguém morre ou sofre na carne as absurdas consequências de actos tresloucados, eu devo sentir-me agredido também. 
Sempre que alguém se arma em carrasco, em nome de absurdas razões, eu devo sentir-me vítima também.   

segunda-feira, 15 de abril de 2013

COMO VAI SER?





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Volto a esta imagem, representação intensamente expressionista do terror, da inquietação e do medo, porque começo a sentir que ela se aproxima cada vez mais do momento que, nós portugueses, estamos a viver.

A quem devemos acusar? Quem tem de prestar contas pelo mal que nos levou à beira do desespero?
Quem ganhou, e quanto, com a toda a desgraça que nos atinge?
Como fazê-los pagar por todo o mal que fizerem?

E as crianças? E os que, tendo já tendo tão pouco, estão a ficar sem nada? E os pobres de espírito que nem se aperceberam do que lhes estava a acontecer?

Malditos sejam os gananciosos e os que, sem escrúpulos, os ajudaram a semear tanta desgraça.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

UMA PÁSCOA DE RESSURREIÇÃO?

A Igreja, tal como a conhecemos hoje, é o produto de uma evolução que começou há mais de dois mil anos.
Na fase inicial, nas suas origens, começou por ser uma seita dissidente do judaísmo, gerada a partir da pregação de Cristo, assimilada e disseminada pelos seus fiéis companheiros e seguidores: os apóstolos.
Nascida com uma vocação ecuménica, ou seja, universal, tendo como destinatários todos os povos, todas as regiões e todas as culturas, rompeu desde logo com o conceito de povo eleito, princípio estruturante do judaísmo e lançou-se na doutrinação, começando a expandir-se pelas terras em volta do Mediterrâneo.
Esta fase apostólica foi a base da Igreja Militante, a dos mártires e santos que lançaram os alicerces e as paredes mestras da nova igreja.
Mas, os poderosos que inicialmente perseguiram e reprimiram os cristãos, acabaram por perceber que o cristianismo não se extinguia pela brutalidade, pois que, quanto mais o perseguiam, mais ele se afirmava. Numa civilização que se afundava na decadência dos costumes, na brutalidade e na corrupção desenfreada dos comportamentos, o martírio era a prova maior da autenticidade da fé e da crença pregada pelos cristãos.
Como em todos os tempos e situações, os prepotentes e poderosos, acabaram por compreender que, não os podendo eliminar nem submeter, se deviam juntar aos cristãos para melhor poderem controlar a influência de que estes dispunham junto das populações.
Começou assim, lentamente, um processo de grande transformação em que, à Igreja Militante, se foi sucedendo uma outra forma de institucionalizar o cristianismo que acabou por resultar na construção da Igreja Triunfante, ou seja, uma igreja que tinha do seu lado e integrava os poderes políticos que dominavam as sociedades humanas. Os reis e todos os tipos de poderosos cuidaram de sacralizar o poder que detinham, tornando-se, primeiro os protectores e depois os principais controladores da própria Igreja.
Da degradação doutrinal e comportamental que daí resultou, começaram a surgir as contestações que levaram às heresias, aos cismas e às tentativas de restauração da pureza primitiva da fé cristã de que foram exemplos S. Domingos e S. Francisco de Assis, em plena Idade Média.
Na passagem do  período medieval à Idade Moderna, a situação tinha-se agravado de tal modo que culminou numa  divisão do cristianismo que, começando na Europa, iria ter repercussões por todo o mundo.
Nesta nova fase, os cristãos envolveram-se em guerras e em perseguições inquisitoriais para afirmarem dogmatismos que já nada tinham a ver com a fé, o despojamento e a caridade, princípios básicos do cristianismo, para dar lugar à intrnsigência, ao proselitismo e ao recurso à violência.
De ambos os lados, os dois blocos foram cavando a irremediável divisão do cristianismo. Uns baseados nas preocupações de Lutero, Calvino e outros reformadores, outros respondendo com a intransigência e o repúdio imposto pelo centralismo dogmático de Roma. 
Gerou-se assim, uma nova fase: a da Igreja Dividida pela Reforma e pela Contra-Reforma .
Ora, como a divisão nunca traz a consolidação porque enfraquece, assim começou uma fase de declínio que se tem prolongado até aos dias de hoje.
Parece que a consciência deste acentuado declínio começa a ser dominante nos mais altos representantes das igrejas. Assim sendo, Francisco (1), o nome escolhido pelo novo Papa, pretende significar, simbolicamente, o desejo de restauração de uma fé que se terá afastado dos seus princípios genéticos, para se cristalizar em atitudes, compromissos e comportamentos que pouco terão, de facto, a ver com uma verdadeira doutrina de Cristo. 
Esperemos que esta Páscoa que agora se celebrou, possa voltar a significar aquilo que foi na sua origem:  
A celebração de uma Ressurreição.

(1) Segundo a tradição, Cristo teria aparecido a S. Francisco e ter-lhe-ia feito o seguinte apelo:
Francisco, a minha casa está em ruínas; repara-a para mim.
São Francisco de  Assis, assim chamado por ser natural da cidade italiana de Assis, onde nasceu em 1182. Filho de um rico comerciante, ainda muito jovem abandonou o bem-estar da família em que nascera para seguir o exemplo de Cristo, dedicando-se à oração, à pregação da humildade, da caridade e do apoio aos necessitados. Foi o fundador da Ordem dos Franciscanos. É considerado o santo da paz, dos pobres, dos animais e da natureza. Morreu em 1226 e foi canonizado dois anos depois da sua morte.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

UM ENORME DESABAFO ...

Confesso que, um pouco por acaso, tive recentemente a sorte de poder assistir a uma sessão de cinema em que era passado um filme que, a mim que não sou de grandes conhecimentos  cinematográficos  e que só muito raramente me disponho a ir a uma sala de cinema, nada me dizia de especial. 
Correndo o risco de expor a minha grande ignorância, dou as indicações que me foi possível recolher acerca do filme: Título Efeitos Secundários; Realizador Steven Soderberg; Actores Jude Law, Rooney Mara e Catherine Zeta-Jones.
Resumidamente, a história envolve uma jovem mulher que começou a tratar-se com um psiquiatra, após uma tentativa falhada de suicídio. Viciada em antidepressivos e ansiolíticos, receitados anteriormente em grandes doses,  por uma médica e que, não só não lhe trouxeram o alívio esperado, como a tornaram dependente, foram minando a sua estabilidade emocional e agravando o seu equilíbrio mental.
O filme causou-me forte impressão. Primeiro pela excelente qualidade em todos os seus aspectos: narração; realização; enredo; representações. Mas, sobretudo impressionou-me porque me pôs a pensar em realidades que já antes tinha observado e que, por associação espontânea, se avivaram com a assistência a este filme. 
De repente a história a que assistia fez-me voltar a pensar no efeito de certas práticas médicas e nas soluções farmacológicas a que certos médicos deitam mão. Esses pensamentos já antes me tinham preocupado.
Pensei na maneira como, a propósito de quase tudo, se receitam fármacos para serem usados durante períodos que parecem exagerados, para atacar situações que, talvez erradamente, a mim me parecem banais ou sem gravidade para que sejam aplicados  tão demoradamente ou em doses grandes demais.
Ora, o filme descreve precisamente uma destas situações, retratando um caso clínico em que o uso imoderado de medicamentos, agrava a sintomatologia da doente e gera uma galopante dependências dos fármacos que foram prescritos pela médica anterior.
Mais de uma vez fiquei perplexo  com situações similares de que tive conhecimento na vida real. O filme avivou-me a consciência desta situação e fundamentou algumas suspeições que eu já tinha formulado e que me levam a colocar as seguintes questões:
- Que raio de sociedade é esta em que as pessoas são levadas a medicar-se para além dos prudentes limites do seu bem-estar?
- Que raio de Medicina é esta que trata de garantir uma aparente felicidade, colocando em risco a integridade daqueles que devia curar?
- Que raio de médicos são estes que parecem receitar mais em função do consumo de medicamentos do que em função da saúde dos doentes? 

Confesso que, perante a denúncia feita por este excelente filme, me lembrei de alguns autênticos vivos-mortos em que certas práticas médicas transformam alguns pacientes que são levados a recorrer a certos fármacos para dormir e a outros para os fazerem acordar. 

Que raio de indústria farmacêutica é esta que parece mais interessada em "vender uma falsa felicidade" do que encontrar cura para a enfermidade?
O problema está sempre em que quando alguns ganham milhões, muitos terão de ser sacrificados.
Já agora, uma pergunta um tanto ingénua: Porque terão os médicos de receitar tantos medicamentos a doentes que apenas se queixam de se sentirem infelizes? Não seria muito melhor ajudar os pacientes a tomarem consciência das causas da sua infelicidade e da maneira de melhor saberem enfrentar os seus problemas?
Às vezes  tenho a convicção de que os médicos deixaram de saber ouvir e entender os doentes que os procuram para que os ajudem a enfrentar os seus problemas. E, em certos casos, tenho mesmo a impressão que  já não prestam cuidados de saúde mas que apenas  recorrem a tecnologias e produtos químicos e que,  só por equívoco se continua a chamar a isso Medicina. 
Tenho esta estranha convicção: Em certos casos, as pessoas que procuram um médico, estão mais necessitadas de ouvir palavras amigas de aconselhamento, compreensão e conforto do que de tomar fármacos. Infelizmente, parece haver cada vez menos médicos disponíveis para práticas semelhantes. 
Mas, enquanto forem admitidos  aos cursos de Medicina os candidatos que têm notas mais altas, sem se atender também, como critério de selecção, aos que têm mais vocação...