segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O GRITO

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Este quadro, uma das quatro versões que  o pintor norueguês, Edvard Munch criou entre 1893 e 1895, aparece agora referida pela imprensa por estar exposta durante algum meses no Metropolitan Museum of Modern Art, de Nova Iorque. 
Sempre esta pintura foi uma das obras que mais me impressionou, sem que me tivesse, em qualquer momento, preocupado em inquirir-me sobre as razões do impacto que,  desde o primeiro momento em que me foi dada conhecê-lo, em mim provocou este quadro. Aliás, penso que, tratando-se de arte, nunca me apetece entrar em grandes explicações. A arte deve falar mais à emoção do que à razão e isso me basta. 
Agora que penso nisso, aqui estou perante um quadro que me apresenta uma imagem tosca, quase um desenho de criança, pouco focado, muito distorcido. Uma amalgama de cores, linhas, formas e tons de uma  de uma imperfeição distorcida e quase brutal de figuras humanas diluídas num cenário onírico e surreal.  Entendo a opção estética do pintor enquadrada num expressionismo extremo do sentimento do mais atormentado desespero.
Mas, nada disto explica o forte impacto que, aqui e agora, esta obra me volta a provocar e de modo muito mais intenso e sentido do que antes. E, de repente, ocorre-me apenas o sentimento que só consigo expressar parafraseando de certo modo Camões: 
Esta é a situação em que, neste momento, pressinto e vejo, a gente, muita da gente, que vive nesta desditosa terra minha amada. 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

ALGUMAS REFLEXÕES...

São números conhecidos porque muito publicados que, enquanto cerca de 70% dos suecos confiam na capacidade e eficiência do seu governo e dos seus deputados, em Portugal apenas 22% afirmam confiar naqueles que foram eleitos para gerirem os interesses públicos ao mais alto nível da governação. 
Não há como iludir a questão: Em Portugal, os políticos, de uma forma geral, são entendidos como pessoas que se candidatam aos cargos da administração pública, não com a intenção de servir mas com o objectivo de aproveitarem o exercício dos mesmos para se servirem do modo que for mais vantajoso e conveniente para o seu próprio interesse. 
Aqui temos reflectida uma questão que costuma ser apreciada com alguma leviandade mas que que exige ser considerada com maior ponderação.
A má qualidade dos nossos políticos reflecte afinal a fraca qualidade de cidadania que temos enquanto povo. Porque, se são os piores que conseguem a eleição, quem os elege somos nós que não usamos os critérios mais adequados para fazermos uma boa escolha. Mesmo que pensemos que não há muito por onde escolher, sempre podemos optar pela abstenção, forma civicamente válida de demonstrar a nossa rejeição pelos candidatos que  são apresentados á nossa escolha pela votação.
Por outro lado, consideremos a questão de outro ângulo: Porque será que os políticos mais preparados e melhor intencionados para bem servirem a coisa pública, se estão a afastar do exercício da política? Não será porque tendencialmente são escolhidos os políticos de menos qualidade? Não estará tudo relacinado com a impreparação política e com o baixo nível cultural do nosso povo?
E que dizer dos partidos? Que raio de associações são estas que mais parecem agências para angariar cargos e promover carreiras?
Para onde caminhamos nesta marcha sem destino, sem projectos e sem princípios orientadores do nosso destino colectivo?

São demasiadas questões , estas que se colocam quando pensamos no lamentável panorama político em que vivemos. Mas são perguntas necessárias. São as que podem e devem ser feitas antes que venham por aí os tais "salvadores da pátria" que tornarão impossível que tais questões sejam colocadas. 
Ou será que actualmente já nem é preciso recorrer aos tais "salvadores" porque nos sabem tão desistentes e tão acomodados que nem precisam de se preocupar com questões que consideram de somenos importância?
Em que consiste de facto hoje o "jogo político"?
Que raio de sistema é este que parece ser feito para garantir o interesse de muito poucos através do esmagamento de todos os outros?
Será que já nem estamos interessados em exercer o nosso direito à indignação?


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

UM ESCLARECIMENTO

Desde há muito que tomei a opção de reservar apenas para mim os comentários que me vão enviando. Pouco me importam os que vociferam que se trata, segundo uns, de acto terrível de censura, segundo outros de uma grande cobardia.
Na verdade não foi por uma, nem por outra das razões acusadas que tomei a minha decisão. Trata-se para mim de uma razão que se situa a um outro nível, talvez mais comezinho, mas a que dou mais importância. Entendo eu que, quando tomamos a responsabilidade de publicitar mensagens, nos tornamos cúmplices dos conteúdos que elas emitem. E, francamente, quando um comentário alarve, boçal ou calunioso, implica o risco de atingir a dignidade de alguém, quando tem como objectivo lançar suspeição ou caluniar, eu tenho o dever de me impedir de servir de veículo a tais intenções. 
Esclareçamos bem uma coisa: na maioria dos casos, as mensagens não são deste tipo; bem pelo contrário, costumam ser apenas apreciações, correcções ou contributos que sublinham ou complementam aquilo que escrevi. Mas, no meio de todas estas, basta o veneno de uma única barbaridade para desfazer todo o benefício que estas formas de comunicação tão livres e que tanto democratizam a troca de opiniões, podem propiciar.
Claro que isto implica que, por vezes, tenha de omitir mensagens que bem gostaria de divulgar. Mas, como entendo que os que me comentam já perceberam que é apenas comigo que estão a comunicar, as mensagens tornaram-se cada vez mais intimistas e até mais autênticas, por se saber, à partida que não serão publicadas. Em contrapartida, e com grande vantagem, as boçalidades e insultos quase desapareceram o que prova a sua intenção de usar o anonimato como forma de atingir. Eram agressões exibicionistas que pouco tinham a ver com comunicação. As que insistem, esbarram na barreira da minha intransigência em pactuar com "bacoradas". Se aqui chegam, aqui acabam, pois são de imediato apagadas. 
Já me têm escrito que, com isto, terei menos leitores. Não é bem como  pensam. Mas, mesmo que fosse, isso pouco me importava. Escrevo primordialmente pelo prazer que escrever me proporciona.  Afinal, escrever estas pequenas e despretensiosas crónicas, é apenas uma forma disciplinada de pensar.  E, já agora, porque não partilhá-las com os que estiverem dispostos a usar um pouco do seu tempo com a sua leitura?
Como esclarecimento devo confessar aquilo que alguns dos meus leitores já perceberam: algumas das coisas que tenho escrito foram-me sugeridas por mensagens que me enviaram. Aproveito também para agradecer alguns apoios e incitamentos. Além disso, se alguma vez for necessário ou de grande interesse, terei todo o prazer em divulgar qualquer comunicação que me enviem com indicação de que gostariam de a ver publicada.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

UMA LIÇÃO DE VIDA



Não tenho interesse e, para dizer a verdade, não me agrada muito, apurar das razões que me levam a ter determinados gostos ou a apreciar certos comportamentos. Esses exercícios de auto-análise não me levam nunca a conclusões que me tragam algum proveito ou virtude.
Vem isto a propósito do gosto que sinto no convívio com algumas, sublinho algumas, pessoas de idade mais avançada. Gosto particularmente das conversas que mantenho com um amigo que eu considero uma das mais interessantes pessoas com quem tenho o privilégio de poder conviver.
Sendo certo que, em muitas das nossas conversas, eu puxo assunto para que fale sobre a sua experiência enquanto professor, num destes dias, trouxe-me um escrito dizendo:

            - Olhe, meu amigo, aqui tem o que eu considero ser a melhor receita para fabricar um boa aula.

            Tomam-se, em partes iguais, uma boa dose de saber, outra de humildade. Juntam-se muito bem até constituírem uma massa homogénea. Tempera-se generosamente com dedicação, empenho e alegria. Autoridade q.b.
Prepotência e imposição, são condimentos que não ficam bem a este género de alimento: azedam-lhe o paladar; tornam-no pouco apetecido.
            Deixe-se a massa assim temperada em repouso activo para que levede. Depois cozinhe-se em lume médio.
            Sirva-se em banquete de não menos de 15, nem mais de 30 convivas. É indispensável que a degustação decorra em bom ambiente e em baixela adequada. 
             Acompanhe-se com o vinho suave da generosidade.
            Tem este pitéu duas notáveis características: Gosta-se tanto mais dele quanto mais vezes se prova; Produz nos que o provam uma agradável sensação de proveito e de bem-estar.

Fiquei muito desconfiado: acho que, o meu sábio amigo, dando-me uma receita de aula quis dar-me uma lição de vida.