segunda-feira, 24 de junho de 2013

PORQUE UNS TÊM E OUTROS NÃO...

Por vezes, os gestos aparentemente mais simples, tornam-se, se bem analisados, sinais muito significativos de comportamentos e atitudes reveladores do valor, do carácter, da personalidade e do pensamento político de certas pessoas. 
Repare-se, por exemplo, em dois factos recentes, ambos envolvendo a mesma personalidade política - o Presidente da República, Cavaco Silva - e dois cidadãos muito diferenciados em todos os aspectos, condições e circunstâncias em que as suas vidas se desenvolvem.
Estou a referir-me ao facto de Miguel Sousa Tavares - licenciado em Direito, jornalista, escritor e comentador político de reconhecida competência e notoriedade - ter chamado palhaço a Sua Excelência, e ao facto de um campomaiorense, aqui perto, na cidade de Elvas, ter mandado uma boca, (Vai mas é trabalhar!) à mesma Excelência. 
Em ambos os casos, a mesma atitude e o mesmo comportamento: usar o poder institucional para reprimir o atrevimento dos dois cidadãos. 
Ora, isto põe uma questão importante em termos de análise política: Há políticos que conseguem impor-se pelo valor que lhes é reconhecido; há outros que nem com o poder de que podem dispor conseguem fazer-se respeitar. 
Repare-se no seguinte: eu tenho uma grande dificuldade em admitir que esta "cena" se pudesse verificar se o presidencial protagonista fossem Jorge Sampaio ou Mário Soares. Porque penso que, mesmo que tivessem ouvido algo de semelhante, não teriam respondido da mesma maneira. Provavelmente teriam ignorado. Mas atrevo-me a afirmar que talvez tivessem aproveitado para, pedagogicamente e com objectivo político,  entrarem em diálogo de esclarecimento com os seus críticos e detractores. 
E porque é que eu penso deste modo? Porque reconheço que numas pessoas existe o factor classe que em outras pessoas parece não existir. E, por isso, por mais "Suas Excelências" que pretendam ser, não têm a capacidade de se imporem pelo valor das suas atitudes e pela excelência dos seus comportamentos. 
É que a excelência não se adquire pelos cargos. Há pessoas que conseguem exercer os cargos a nível da excelência. Há outras que, por mais "Suas Excelências" que pretendam ser, com o seu comportamento prepotente e autoritário, só conseguem ter uma atitude de ridícula banalidade,.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

CARTA ABERTA AO SENHOR MINISTRO



Senhor Ministro Paulo Portas:

Fiquei muito sensibilizado pela preocupação que Vossa Excelência manifestou com os efeitos nefastos que a greve dos professores nos dias de exames poderia provocar no meu futuro.
Mas, para tranquilidade de Vossa Excelência, venho dizer-lhe que não tenha qualquer preocupação no que me diz respeito, porque eu, este ano não poderei apresentar-me a exame.
Saiba Vossa Excelência que aconteceram várias situações na nossa família que impediram que eu continuasse a frequentar a escola, ou seja, deixei de poder continuar a estudar. Foi pena porque pensava concluir o 12º ano e candidatar-me à frequência de um curso universitário. As notas tiradas nos anos anteriores abriam uma forte probabilidade de poder atingir esse objectivo, porque a média das classificações era bastante elevada. E, como eu sempre gostei muito de estudar, tudo levava a crer que assim continuaria neste ano terminal do Ensino Secundário.
Mas, não me restou qualquer possibilidade depois do que, ao longo dos dois últimos anos, nos foi acontecendo:
            - Primeiro foi o encerramento da fábrica 
            onde o meu pai trabalhava;
- Depois os atrasos nos pagamentos da prestação da casa obrigou-nos a entregá-la ao banco e a vir viver para casa dos nossos avós;
- Logo a seguir os meus avós ficaram sem os subsídios e viram reduzidas as suas reformas; sendo ambos muito doentes, parte do seu rendimento vai para medicamentos;
- O meu pai não conseguiu arranjar novo emprego e recorreu a alguns biscates que vai fazendo na vizinhança;
- A minha mãe tem procurado algum ganho na prestação de serviços de limpeza;
- A minha irmã mais nova precisa de apoio nos estudos e eu posso dar-lhe uma ajuda para que ela não se atrase.

Por tudo isto, não havendo dinheiro para poder comprar livros e outro material escolar, não sendo possível sustentar o preço dos transportes e das refeições na escola que fica bastante afastada da nossa residência, não restou alternativa que não fosse eu ter abandonado a escola.
Portanto, como vê, não deve estar tão zangado com os professores, pois não são eles os culpados destas coisas que acabo de descrever.

Assim sendo, quero que Vossa Excelência tranquilize a sua inquietação, pois, segundo sei, muitos haverá como eu que não irão ser afectados com a greve dos senhores professores.
Mas, francamente lhe confesso que até compreendo que eles queiram fazer greve. Se calhar estão com medo de perder o emprego. É que se as coisas assim continuam, haverá cada vez menos alunos e serão necessários cada vez menos professores.

Agradeço a preocupação manifestada, despeço-me ciente de que nada disto acontece por culpa de Vossa Excelência. Ninguém com a boa vontade de que Vossa Excelência deu claras provas, seria capaz de fazer fosse o que fosse para que tantas desgraças nos acontecessem.
Com os melhores cumprimentos

Venerante e Obrigado

(Um aluno, colocado na reserva contra a sua vontade).

domingo, 16 de junho de 2013