Por vezes, os gestos aparentemente mais simples, tornam-se, se bem analisados, sinais muito significativos de comportamentos e atitudes reveladores do valor, do carácter, da personalidade e do pensamento político de certas pessoas.
Repare-se, por exemplo, em dois factos recentes, ambos envolvendo a mesma personalidade política - o Presidente da República, Cavaco Silva - e dois cidadãos muito diferenciados em todos os aspectos, condições e circunstâncias em que as suas vidas se desenvolvem.
Estou a referir-me ao facto de Miguel Sousa Tavares - licenciado em Direito, jornalista, escritor e comentador político de reconhecida competência e notoriedade - ter chamado palhaço a Sua Excelência, e ao facto de um campomaiorense, aqui perto, na cidade de Elvas, ter mandado uma boca, (Vai mas é trabalhar!) à mesma Excelência.
Em ambos os casos, a mesma atitude e o mesmo comportamento: usar o poder institucional para reprimir o atrevimento dos dois cidadãos.
Ora, isto põe uma questão importante em termos de análise política: Há políticos que conseguem impor-se pelo valor que lhes é reconhecido; há outros que nem com o poder de que podem dispor conseguem fazer-se respeitar.
Repare-se no seguinte: eu tenho uma grande dificuldade em admitir que esta "cena" se pudesse verificar se o presidencial protagonista fossem Jorge Sampaio ou Mário Soares. Porque penso que, mesmo que tivessem ouvido algo de semelhante, não teriam respondido da mesma maneira. Provavelmente teriam ignorado. Mas atrevo-me a afirmar que talvez tivessem aproveitado para, pedagogicamente e com objectivo político, entrarem em diálogo de esclarecimento com os seus críticos e detractores.
E porque é que eu penso deste modo? Porque reconheço que numas pessoas existe o factor classe que em outras pessoas parece não existir. E, por isso, por mais "Suas Excelências" que pretendam ser, não têm a capacidade de se imporem pelo valor das suas atitudes e pela excelência dos seus comportamentos.
É que a excelência não se adquire pelos cargos. Há pessoas que conseguem exercer os cargos a nível da excelência. Há outras que, por mais "Suas Excelências" que pretendam ser, com o seu comportamento prepotente e autoritário, só conseguem ter uma atitude de ridícula banalidade,.