Várias vezes referi, o gosto que
tenho em falar com um amigo bastante mais velho do que eu. Refiro-me à idade.
Porque, no respeita às ideias e à maneira de analisar as situações, acabo por
pensar que o mais envelhecido sou eu, por tender a pensar como os outros pensam
sem tomar em atenção o que tantas vezes já me disse:
O pensamento, ou é critico e estruturado, ou serve apenas para repetir
coisas que, desde há muito, não têm qualquer serventia ou utilidade.
Cada vez procuro mais decifrar
esta norma para orientar as minhas opções e o meu pensamento.
Já o tinha procurado nos sítios
onde costuma ir e por onde costuma passar. Perguntei porquê, mas não sabiam
dar-me resposta. Teria ido para fora diziam-me. Estanhei que não mo tivesse anunciado.
Ontem aí estava ele caminhando
para mim com seu sorriso acolhedor que eu tomo sempre como manifestação de
amizade. Naquele momento tive plena consciência de que sentira saudade pela sua
ausência.
Como de costume procurámos sítio
sossegado para falarmos.
Começou logo por me surpreender com
a informação que saíra por problemas graves e que entendi que o eram o bastante
para precipitar a viagem à procura da sua resolução. Não vou entrar em
pormenores porque cada um tem o direito a resguardar a sua intimidade.
Depois deu-me a notícia de que,
pelo que anteriormente me dissera, tinha de colocar um ponto final na
colaboração de um projecto de apoio e serviço social que eu muito estimava.
Tentei saber os motivos, na
intenção tola de que o poderia demover de uma tal decisão.
Levantou a mão e pediu que
tivesse paciência e o ouvisse por mais algum tempo.
Falou-me da sua condição de agnóstico
que o colocava à margem de qualquer crença.
Falou-me do seu processo de
formação pessoal, sobretudo a nível ético e que desde a tenra infância fora
marcada pelo cristianismo: as catequistas da Matriz, que lhe fizeram decorar as
orações fundamentais; os professores de moral, no liceu, com o seu ímpeto ferozmente
disciplinador, que o fizeram sentir-se uma espécie de marginal.
Referiu-me a sua tremenda revolta
quando chegou à Universidade e renegou tudo aquilo.
Mas, disse-me o seguinte: do
Cristianismo conservou sempre o profundo sentido ético das suas mensagens.
Porém, percebeu, desde muito cedo, que esse sentido tinha de ser continuamente entendido
e adaptado aos tempos e casos que os homens iam vivendo.
A doutrina cristã como lengalenga,
não é nada, não serve para nada.
Concluiu dizendo: não perguntes
pelas causas que me fizeram tomar a decisão.
Não se tratou de causas, porque
elas existem sempre: as pessoas são as pessoas, com os seus defeitos, as suas inseguranças
e, mesmo, com as suas maldades.
Mas há um princípio que herdou da
moral cristã (Amai-vos, uns aos outros!) que procurou adaptar à sua maneira de
pensar e de agir, porque, com toda a honestidade, era incapaz de amar certos e
certas Filhos-da-mãe).
Por isso o seu princípio ético,
traduz-se assim: Aturai-vos uns aos
outros até que isso for possível e suportável.
Ora, é esta razão, que os outros
parecem não quer entender, é tão fundamental e tão clara para ele. Há coisas
que não quer aceitar e situações que já não tem capacidade para suportar.
Entendi claramente e não precisei
de perguntar mais nada.
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