Não são os rebeldes que causam os problemas do mundo; os problemas é que fazem que haja rebeldes.
Carl Oglesby
(1935-2011) - escritor e activista político norte-americano.
Os vícios que se foram instalando no nosso sistema, no que respeita a relações laborais, só podem ser ignorados pelos que, tomados de sindicalite aguda, se mostram cegos e surdos a qualquer tipo de razões. Ora, há coisas que precisam de ser remediadas para resolver a situação de crise em que vivemos e, por isso terão de ser consideradas certas concessões para que possam ser resolvidas algumas questões.
Por outro lado, uma certa classe política procura sempre agir em conformidade com os interesses de grande parte dum patronato, que é ganancioso, mal preparado, de ideias obtusas e incapaz de prever os efeitos nocivos de certas atitudes extremas.
Nestas circunstâncias, cabe ao Estado ter a prudência de ponderar cuidadosamente, quando se trata de legislar sobre estas questões e o governo deve agir de forma a encontrar os equilíbrios possíveis para evitar que se gerem ou agravem os problemas sociais.
Ora bem: O que é que se está a passar no que respeita às propostas enunciadas por este governo?
Baseado num modelo económico que defende que a competitividade da economia se consegue através da desvalorização dos custos da força de trabalho, preconiza cortes salariais, facilita os despedimentos, favorecendo que eles possam acontecer bastando invocar a baixa produtividade dos trabalhadores.
Não será de prever que tanta liberalização implicará o risco de que se instalem procedimentos demasiado agressivos e arbitrários entre empregadores e empregados? Proprietários, gestores e encarregados intermédios, agora libertos da exigência de justificar o despedimento com justa causa, ficarão dotados de um poder praticamente discricionário para despedir os trabalhadores.
Garantem eles, os que acreditam no remédio miraculoso de tal receita, que Portugal será, em poucos anos, um país mais dinâmico e mais próspero porque mais competitivo.
Mas, pergunto eu: Será que um país tão flagelado pelo elevado desemprego, pelas pesadas cargas fiscais que já suporta e pela desesperança que vai invadindo o ânimo de grande massa da população, não irá soçobrar perante um processo de cura tão radical? E se, em vez da esperada conformação passiva, de repente tudo isto provocar uma reacção de incontrolável revolta?
Os modelos económicos, ao cabo e ao resto, não passam disso mesmo: são pressupostos teóricos a priori que muitas vezes não resultam. E não resultam porque no meio estão pessoas com as suas necessidades, os seus sentimentos e os seus desesperos que os levam a tomar atitudes de difícil previsão.
As pessoas até serão capazes de aceitar sacrifícios se estes lhes forem bem explicados em função de certas condições:
- Primeiramente, que eles são urgentes, inevitáveis e absolutamente necessários;
- Em segundo lugar, que os objectivos a alcançar estão clara e seguramente definidos;
- Em terceiro lugar, que eles foram definidos tendo em vista o bem comum e não o exclusivo benefício de alguns.
Será que estas condições estão a ser tomadas em consideração e estão claramente garantidas?