sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Um caso exemplar

Creio que já uma vez tinha referido, num texto aqui publicado, que tenho uma familiar minha de quem muito gosto a frequentar a Universidade Sénior que funciona na CURPI.
Agora anda satisfeitíssima  porque recomeçaram as actividades na sua Universidade. Vejam bem, logo ela que de início teve tanta dificuldade em decidir-se a frequentá-la. Dizia-me ela que aquilo lá na CURPI não lhe inspirava grande confiança. Porque era uma casa só dos homens e por outras razões que nem se atrevia a dizer. Afinal, tudo isso está ultrapassado. Agora passa a vida a falar-nos do que por lá faz e do que vai aprendendo. Quanto a reservas, tudo passou. Ela que é tão ciosa das suas crenças, refere constantemente que por lá toda a gente se respeita. Isto na boca dela, tem mesmo muito peso.
Com base nisto, sou obrigado a reconhecer que, apesar de tudo o resto, há ainda gente em Campo Maior capaz de realizar coisas importantes para as pessoas, sem precisar de fazer grande espalhafato. Atrevo-me mesmo a dizer que será das melhores coisas que, no campo da cultura, têm acontecido nesta terra.
Ainda por cima, pelo que vou sabendo, tudo é feito sem grandes gastos, uma vez que todo o trabalho é feito em regime de voluntariado.
Sei também, pelos relatos que me são feitos, que as viagens que organizado, têm sempre um grande interesse cultural. Garanto-vos que às vezes fico com pena de não me poder associar a tal projecto. Até já pensei oferecer-me para colaborar. Mas, o raio da vida profissional, com as suas responsabilidades e os seus horários, tornam isso muito pouco provável. Resta-me apenas formular um voto: que as autoridades locais estejam atentas para ajudarem a desenvolver e a manter iniciativas deste tipo.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

A regionalização?

Aparece com bastante frequência na imprensa escrita e algumas vezes por aqui, nos blogues, o tema da regionalização. A ideia em si parece muito agradável e interessante, pelo menos, numa primeira anáilise.
Contudo, quando nos pomos a pensar melhor, quando olhamos atentamente para o que tem sido o poder local nas últimas décadas, começamos a duvidar de que haja garantias de a regionalização ser uma solução que nos possa garantir os melhores resultados.
Se, assim, com uma administração centralizada são tantos e tamanhos os  desmandos, como seria com a descentralização? Que garantias teríamos de uma rigorosa e atenta fiscalização que procedesse a um constante controlo das decisões politicas e financeiras a nível regional e local?
Com as práticas que todos nós observamos, com a tendência para o compadrio e para a satisfação das clientelas, não seria ainda maior o risco de agravar a crise que parece não querer abrandar?
Só com uma nova atitude e com uma nova geração de políticos com comportamentos diferentes dos que actualmente predominam, se poderia pensar em conceder maior autonomia regional. 
Por outro lado, sendo o nosso país tão pequeno, e vivendo nós num tempo com tanta facilidade de deslocação e de comunicações, justifica-se tanto barulho à volta do problema da regionalização?
Talvez que, em vez disso, fosse preferível aperfeiçoar o sistema que temos e resolver os nossos problemas. Parece que temos tendência para estar sempre a mudar e, afinal, o que acontece é que tudo acaba por ficar sempre na mesma.

sábado, 23 de outubro de 2010

As crises ou a crise?

A comunicação social, tanto a escrita como a televisionada, conseguem dar a aparência de grande actualidade a coisas que bem analisadas, chegamos à conclusão de que se arrastam há tantos anos que já parecem fazer parte da normalidade. 
Aquilo que agora nos aparece todos os dias e em todos os noticiários como o grande tema, comentado em termos tais que até parece tratar-se de grande novidade, talvez não passe de mais um episódio de uma situação permanente de crise que teima em perdurar desde há mais de trinta anos.
Senão, vejamos: 
A primeira grande crise em democracia deu-se em 1977/1978; a segunda, foi em 1980/1982 (o Fundo Monetário Internacional interveio em Portugal em 1978 e  1983; a terceira, a do choque petrolífero, ocorreu em 1993; já neste século, tivemos a de 2002/2003 e agora estamos mergulhados noutra desde 2008. 
Todas estas crises tornaram bem evidente a fragilidade estrutural da nossa economia. Isto torna-nos uma país muito exposto às variações da conjuntura económica internacional.
Assim sendo, os nossos problemas não se resolvem nem com a aprovação ou não de um orçamento, nem com mais ou menos mudanças de governo. Nós precisamos de reformas profundas. E o que nos falta são políticos dotados de coragem e de competência para as levarem a efeito. Enquanto formos governados por gente que só toma decisões a pensar nos resultados eleitorais, não haverá solução pra os nossos problemas. Isto não significa que precisemos dum providencial ditador, como antigamente. Precisamos é de autênticos democratas dotados de autêntico carácter.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Festas para o povo?

As Festas do Povo de Campo Maior são também festas para o povo de Campo Maior. Isto que parece um jogo de palavras, contém uma verdade que é preciso tomar em consideração. Porque as Festas trazem sempre grandes encargos para a maior parte da população desta vila. Todos sabemos que, para além do esforço que envolvem, as Festas implicam sempre gastos pesados para orçamentos de boa parte das famílias. Ora, na situação actual, muitas dessas famílias estão em muito más condições para suportarem esses encargos. Todos sabemos, porque assim é costume, que as casas se enchem de visitas que se instalam e que é preciso sustentar. É isso que exige o tradicional hábito de bem receber.
Tomando isto em consideração, cabe perguntar se estamos em condições de nos abalançarmos neste momento para semelhante iniciativa. Os que passam o tempo a clamar que as Festas são quando o povo quer, são os que menos se preocupam em saber se o povo as quer verdadeiramente neste momento. Não conheço qualquer sondagem séria que permita confirmar essa vontade. Tudo o que foi feito peca pelas fracas condições que não reflectem a vontade da maioria das pessoas. Sim, porque não me venham convencer que aquela "sondagem" feita durante a feira de Agosto, tem qualquer credibilidade. Eu, podia perfeitamente ter posto lá uma quantidade de papéis, bastava que lá colocasse um de cada vez que lá passava. É preciso cuidado com certas afirmações. Porque não basta escrevê-las num qualquer panfleto para passarem a ser verdades.
Outra questão que se impõe é a seguinte: a Câmara Municipal está, ela própria, nas melhores condições para realizar tão ambicioso evento? 
Foi feita uma análise ponderada dos erros cometidos em 2004 e estão bem pensadas as soluções para evitar que esses erros se repitam?
Manda a prudência popular não dar passos para além do alcance das pernas. E diz-se também que nunca é demais prevenir porque essa é a melhor forma de não ter de remediar.
Eu, por mim, adoro as Festas e gostaria que elas se realizassem. Mas seria para mim um grande choque se elas fosse um fracasso ou um agravamento tal dos nossos problemas que viessem a pôr em risco o futuro das próprias Festas e da nossa comunidade.
Tenho para mim que se as Festas devem ser feitas quando o povo quer, acima de tudo, devemos pensar que elas devem ser feitas quando o povo pode.

domingo, 17 de outubro de 2010

Corremos para o abismo?

Pega-se no jornal e lê-se sem surpresa coisas que, embora extraordinárias, a elas estamos tão habituados que já nem conseguem causar-nos espanto. Ou seja, estamos carentes de tudo. Estamos aflitos com as contas do Estado que não param de agravar o seu desequilíbrio, o desemprego não pára de crescer, cada um de nós tem cada vez menos para pagar os compromissos que temos de assumir.
Apesar disto, somos informados de que se gastam montanhas de dinheiro em coisas de oportunidade e de necessidade mais do que discutíveis.
O jornal de há dias trazia estes mimos como exemplo:
- O Turismo dos Açores terá pago 1,5 milhão de euros a uma empresa pela organização das "7 Maravilhas Naturais de Portugal";
- Uma empresa de consultadoria recebeu um milhão de euros do Estado e ocorre-nos perguntar - para quê? 
- O primeiro-ministro fez um contrato de 63 mil euros com uma empresa que fornece arranjos florais;
- A ida de uma comitiva portuguesa à 53ª Bienal de Artes de Veneza terá custado uma avultada quantia, a avaliar pelo preço de um único jantar num hotel de luxo que custou 13.500 euros;
- A RTP, empresa pública, gastou mais de 50 mil euros em agendas e brindes e igual quantia gastou a Casa Pia para o mesmo efeito.
A lista peca por defeito porque estes casos são apenas uma minoria dos que vão acontecendo e nem sequer são dos mais graves. Mas ocorre-nos pensar: isto que se passa a nível do estado central, como decorre a nível das autarquias?
Nós que por aqui vamos vivendo, sabemos os exageros em gastos supérfluos ou de legitimidade discutível que por todo o lado se praticam.
Quem viesse de fora e visse isto, poderia acreditar que estamos mergulhados num ponto alto de uma grave crise?
E se cada um de nós, a nível local, começasse a tomar nota dos casos de despesismo inútil a que vai assistindo?
A vigilância é uma forma muito importante de controlo democrático.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Promessas eleitorais

Um certo exagero nos elogios usados num blogue de Campo Maior, provocou o aparecimento de uma mão cheia de comentários de desigual justiça e acerto quanto às opiniões que manifestam. Se é certo que para todos eles se poderia se dizer que Roma e Pavia não se fizeram num dia, se é também difícil negar que há pontos muito fracos na actual gestão camarária, há outras questões que merecem ser muito bem pensadas porque consistem em erros graves na elaboração do programa eleitoral que levou à eleição do actual elenco camarário. Eu não estava em Campo Maior nessa altura. Mas, quando mais tarde, pude ter acesso aos documentos, fiquei francamente irritado com alguns aspectos desse programa. Entre outras coisas fixei o pormenor da famosa marina na barragem do Caia. Embora não seja a única insensatez das coisas inventadas pelas mentes alucinadas que parecem ter colaborado neste programa, esta será talvez uma das de maior exagero. O exagero é tão grande que ressalta à vista de qualquer pessoa que uma obra dessas seria no mínimo tão pouco realista e tão insensata como a construída piscina coberta. Primeiro, porque não se trata de uma necessidade urgente de Campo Maior; em segundo lugar seria insensato fazê-lo numa altura em que há tanta falta de recursos, tantos problemas e tantas necessidades para resolver. Por outro lado, os gastos de dinheiros públicos têm de ter algumas regras: ou são úteis do ponto de vista social, ou têm de ter uma real expetativa de retorno. Acrescente-se ainda a dúvida que me assiste de ser adequado e legalmente possível construir tal marina numa barragem que tem como uma das suas funções o abastecimento de água às populações. 
Por isso, a ironia usada por alguns dos comentadores do texto atrás referido, acertam em cheio na crítica que deve ser feita a certas propostas eleitoralistas que nada têm, nem de bom senso, nem de seriedade e que são feitas por gente que não parte da única atitude séria e rigorosa que deve ter qualquer equipa que se propõe elaborar um programa eleitoral. Ninguém o pode fazer corretamente sem fazer um sistemático e rigoroso levantamento de necessidades e de problemas. 
E atenção ao ORÇAMENTO PARTICIPATIVO! Se não é para ser feito com rigor, mais vale que não seja feito.

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Para que conste

"Nas finanças, temos de fazer um estudo das despesas muito pormenorizado e sossegado. Não é ir aos salários... é ver despesa a despesa.
Por exemplo, o mapa autárquico de mil oitocentos e tal não presta. Temos 30% de municípios com menos de dez mil habitantes... o que pagam de impostos não dá para o presidente da câmara o chauffeur e a secretária!
Tem de se reorganizar o mapa autárquico. 4.500 freguesias é um disparate! E, sabe porque não se mexe no mapa autárquico? Porque há presidentes de câmara que tinham de ir tratar da vida para outro sítio. Não se faz nada que mexa em interesses!

Empresas municipais - suprimir a eito. Essas empresas? Então a gente viveu sem elas até há cinco anos! O que houve foi um esperto que descobriu que aquilo era maneira de fugir com o dinheiro às contas. Endividam-se pelas empresas municipais, e não se endividam pelas câmaras. Se eu estivesse nas Finanças, no dia em que aparecesse a primeira, não deixava andar nem mais uma! Acabar com piscinas, redondéis, coisas onde se gasta dinheiro.

Não preconizo que se mexa no Estado Social, em pessoas com trezentos euros de reforma, que já são uma desgraça. Deve-se mas é acabar com as despesas inúteis todas...

Os carros devem ser de modelo médio para ministros e têm de durar cinco ou seis anos. Quando fui ministro, tinha um carro recuperado da sucata da Alfandega de Lisboa."

Medina Carreira em entrevista à TSF e ao DN, 10 de Outubro


domingo, 10 de outubro de 2010

Maus hábitos

Que triste espectáculo a que assistimos quando verificamos que as nossas ruas estão quase sempre cheias de lixo, com papéis, embalagens, sacos de plástico e outros tipos de porcarias. 
Há gente que resolve a questão com toda a facilidade dizendo, "são os ciganos". E de consciência tranquila, passam adiante. De facto, são também os ciganos, mas não só. Quem quiser com olhos de ver poderá facilmente confirmar que há muitos não ciganos a contribuir constantemente para o desmazelo em que se caiu nesta terra no que respeita à limpeza dos espaços públicos. Desde as criancinhas de escolas, aos mais idosos, vemos constantemente deitarem para o chão todo o tipo de porcarias.
Isto parece tão enraizado nos hábitos da população que se coloca um problema: que fazer para mudar este estado de coisas?
A mim passa-me pela cabeça que se trata de um problema de educação. Assim sendo, há uma instituição que não pode ficar fora desta questão. Porque, é ainda mais chocante ver a maneira como as crianças das escolas sujam o seu próprio espaço, deitando todo o género de coisas para o recreio, quando não vão mesmo ao ponto de deitar cá para fora as embalagens das coisas que acabaram de comer ou beber
Parece-me a mim que o papel da escola não se deve limitar a ensinar as matérias. Deve também educar, levando as crianças a adquirir hábitos que as tornem mais educadas e mais aptas para viverem em sociedade. Há mesmo escola tão preocupadas com o desenvolvimento da cidadania que levam a cabo muitas acções para sensibilizar as crianças para a necessidade de manter limpo o meio que as rodeia e para a prática de hábitos como a reciclagem dos lixos.
Tenho para mim que ganhar a batalha da higiene pública será uma forma de contribuir para a melhoria geral da educação. É sabido que, frequentemente, as próprias crianças levam para as famílias os hábitos e os comportamentos que aprendem nas escolas.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Diversão e cultura (outra vez)

Acabo de consultar o portal da Câmara Municipal de Campo Maior e fico espantado com aquilo que leio. Num texto datado de 6 de Outubro, são referidas as iniciativas que tiveram lugar no Centro Cultural da vila, com realce apenas para a sessão de fados na noite de 2 do corrente mês, para o desfile de moda infantil, seguido do espetáculo musical com crianças que participaram no programa da TVI "Uma canção para ti".
Que raio se passa com as pessoas responsáveis por esta informação?
Se alguém a viver fora de Campo Maior procurasse estar informado sobre o que por aqui se passa, ficaria com a ideia de que nada de mais importante se realizou por estas bandas.
Ora bem... Na tarde do mesmo dia 2, assistiu-se a uma manifestação cultural de grande qualidade e de grande interesse para a nossa comunidade: uma homenagem a um campomaiorense ilustre, Professor Doutor Mário Ruivo, personalidade de reconhecimento internacional, a celebração do centenário da República com referência aos familiares do homenageado que tanta importância tiveram na implantação da República em Campo Maior e uma exposição do espólio do pai do homenageado.
Alguma da blogosfera campomaiorense deu grande realce a este acontecimento. Mas parece que os responsáveis autárquicos estão de costas viradas para uma realização que eu pensava que tivesse sido de sua iniciativa. Além de não ser noticiada a cerimónia de dia 2, também não se faz qualquer destaque à exposição que está patente ao público no Centro Cultural.
Voltamos a depararmo-nos com a velha questão: parece que para os responsáveis pela cultura, esta se reduz apenas a actividades de diversão. Porquê? Porque a cultura não dá votos? Vejam lá, eu a julgar que esses tempos estavam ultrapassados.
Francamente... há que ter mais discernimento e mais atenção porque há muita gente atenta ao que se está a passar. Ouçam o que por aqui se diz e verão que tenho razão.

Má-língua e espírito crítico

Por um questão de princípio, não gosto de revelar as minhas convicções religiosas ou políticas. Por um lado porque não tenho espírito de seita nem gosto de sectarismos. Por outro lado, porque entendo que as regras de boa convivência e de boa educação nos impõem uma atitude de tolerância e de respeito pelas crenças, convicções e opiniões dos outros.
Dito isto, confesso que desta vez, é com grande prazer que transcrevo as ideias com que me identifico tanto mais que são expressas por alguém que muito considero:
Os católicos estão perante um convite à participação numa investigação e num debate que conduzam a uma nova ordem pastoral. Ficar de fora para, depois, vir dizer que não se faz nada ou que aquilo que se faz está mal feito, não me parece melhor opção. 
 A má-língua nada tem a ver com o espírito crítico, que se caracteriza pela capacidade de ver, analisar e avaliar, isto é, saber destrinçar para decidir segundo os dados recolhidos. A má-língua é derrotista e paralisante. O espírito crítico, pelo contrário, ao não reproduzir velhas perguntas - perguntas velhas que só podem trazer velhas respostas -, levanta questões que, pondo em causa falsas evidências, abrem o caminho à investigação do desconhecido
O sublinhado é meu, mas o texto é de Frei Bento Domingues O.P., no jornal Público de 3 de Outubro de 2010.
Embora num contexto de pensamento cristão, estas ideias e princípios são universais e por isso entendo que devem ser divulgadas. Principalmente, numa sociedade como esta em que nos integramos, onde campeia a má-língua e falta espírito crítico, vontade e capacidade para remediar necessidades e erros que se resolveriam com maior compreensão e intervenção.

domingo, 3 de outubro de 2010

Uma Homenagem Maior em Campo Maior

Acabei de ler em Objectiva Fotográfica - Campo Maior um belo texto sobre um evento cultural. Também lá estive. E, digo-vos, com toda a emoção e sinceridade que se tratou de um acontecimento como ainda não  me tinha sido dado assistir aqui em Campo Maior.
Embora se tratasse de homenagear um campomaiorense tão notável como desconhecido de boa parte da população de Campo Maior, o Professor Doutor Mário Ruivo, esta homenagem foi pensada e organizada de modo inteligente, de modo a que as pessoas que a ela assistiram pudessem aproveitar, aprendendo sobre a história de Campo Maior e reflectindo sobre algumas características muito próprias da nossa cultura. Esta cerimónia teve pouco de cerimonioso e muito de afectividade. Elogiou-se uma família que, no século passado, marcou profundamente a vila de Campo Maior. A exposição que foi inaugurada e que estará até ao fim de Outubro no Centro Cultural, ilustra bem a importância que esta família teve na sociedade campomaiorense.
E que dizer do Coro da Academia Sénior de Campo Maior? Esta academia, que se tem desenvolvido de forma tão discreta e tão modesta, começa a revelar os frutos do interessante trabalho que aí tem sido levado a cabo. Que bom foi ouvir aquelas vozes dos nossos seniores a revelarem-nos como foram noutros tempos interpretadas as "saias", essa manifestação tão popular e tão campomaiorense.
E a nossa banda? Que prazer me deu ouvi-los tocar para uma assistência tão interessada e tão participante! E como conseguiram empolgar a assistência, levando-a a cantar a uma só voz e de pé o Hino Nacional!
Para além do mais, esta realização demonstrou que há gente com capacidade e vontade para fazer coisas interessantes e importantes aqui em Campo Maior. E demonstrou também que há assistência para estes eventos culturais: a sala estava à cunha.
Os meus agradecimentos e os meus parabéns a todos os que estiveram envolvidos na organização.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Ainda sobre os ciganos

Por temperamento e por formação, tenho muita dificuldade em aceitar teorias e posições fundamentalistas, seja sobre o que for. A realidade das coisas nunca é a preto e branco. Há sempre muitas tonalidades e muitos aspectos diferentes a considerar, sobretudo, quando se trata de questões sociais.
Pergunto-me muitas vezes se a defesa fundamentalista do que alguns consideram ser a cultura cigana, querendo dizer com isso que têm e devem conservar comportamentos que lhes são próprios, não é uma forma que leva mais à conservação dos sofrimentos que essa gente tem sofrido ao longos dos muito milhares de anos desde que terão chegado à Europa. 
Afinal em que consistem hoje esses comportamentos? Na sua grande ignorância que os torna incapazes de garantir a sua sobrevivência em condições aceitáveis? Ou que os torna numa espécie de parasitas na dependência dos povos com que convivem?
E em que condições têm vivido de facto a grande maioria dos milhões de ciganos espalhados pelo mundo? O facto de nunca se terem integrado na totalidade na sociedade, não é a principal causa da miséria das suas condições de vida?
O baixo nível de instrução e a sua falta de educação não serão as causas principais que os tornam tão pouco simpáticos aos olhos das outras pessoas?
Conservá-los na situação de miséria em que vivem é, de facto, a melhor forma de os proteger e de lhes proporcionar melhores condições de vida?
Poderemos não admitir para nós que alguém viva apenas com direitos e sem deveres? E não é isso que, de facto, muitas vezes consentimos aos ciganos?