Há verdades que, nem são simpáticas, nem fáceis
de entender. Mas, porque são importantes, necessitam de ser ditas e reditas até
que haja cada vez mais gente capaz de as entenderem e de as tomarem em
consideração. Uma dessas verdades ajudará a compreender porque é que tantos se
dizem, actualmente, desiludidos da democracia.
Ora bem: vejamos de que gente se trata começando
por analisar o entendimento que esses desiludidos têm do que seja democracia.
Será que alguma vez a entenderam como o sistema social e político que se baseia
em princípios como a Liberdade de opção e de expressão, a Igualdade perante a
lei e de acesso a todos os estatutos e oportunidades de promoção e a
Solidariedade que deve unir todos, quando se trata de garantir os direitos de
cada um?
Ou será que muitos desses que hoje proclamam a
sua desilusão com a democracia a entenderam apenas como a oportunidade que lhes
foi dada de acederem a situações de vantagem, de fortuna e de bem-estar com o
mínimo de esforço e com o máximo de proveito?
Se a nossa memória não for falseadora ou curta,
qualquer um de nós pode facilmente lembrar tantos que, agitando bandeiras e
proclamando fingidas convicções, tentaram obter o máximo de vantagens, proclamando
direitos e desprezando deveres.
De facto, a democracia como sistema político, é de
todos o mais perfeito a nível dos princípios e o mais frágil e falível no que
respeita às acções de defesa que desenvolve e às acções de ataque que
permite.
O mal da democracia é ser por demais permissiva e
pecar por tão pouco vigiar, julgar e castigar os que dela se servem, gerando
com os seus abusos as razões e condições que colocam em risco a própria
democracia.
Claro que, na actual conjuntura, muitos
encontrarão razões para grande frustração. Afinal apostaram muito nesta gente
que, atingido o poder, deitou fora declarações e promessas e que, com a sua enorme
incompetência e cega obstinação, estabeleceu a desgraça generalizada a que
estamos a assistir.
Porém, bem vistas as coisas, não se tratará de
estarem desiludidos com a democracia. Na verdade, estarão mas é carentes de
oportunidades desejadas e não concretizadas. Estarão mesmo numa situação
de quase ressaca por se verem destituídos das benesses e mordomias a que estão
habituados.
Descontentes estão, com plena razão, os que se
encontram desempregados, os que se vêem privados de parte dos seus rendimentos,
os condenados a salários, pensões e reformas de miséria. Mas estes não estão
desiludidos da democracia. Estão irados e revoltados por não serem respeitados
os princípios e deveres que devem orientar os que foram democraticamente eleitos
pelo povo para que governassem em defesa dos seus direitos e com salvaguarda dos
seus interesses e necessidades fundamentais.
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