Confesso que, um pouco por acaso, tive recentemente a sorte de poder assistir a uma sessão de cinema em que era passado um filme que, a mim que não sou de grandes conhecimentos cinematográficos e que só muito raramente me disponho a ir a uma sala de cinema, nada me dizia de especial.
Correndo o risco de expor a minha grande ignorância, dou as indicações que me foi possível recolher acerca do filme: Título Efeitos Secundários; Realizador Steven Soderberg; Actores Jude Law, Rooney Mara e Catherine Zeta-Jones.
Resumidamente, a história envolve uma jovem mulher que começou a tratar-se com um psiquiatra, após uma tentativa falhada de suicídio. Viciada em antidepressivos e ansiolíticos, receitados anteriormente em grandes doses, por uma médica e que, não só não lhe trouxeram o alívio esperado, como a tornaram dependente, foram minando a sua estabilidade emocional e agravando o seu equilíbrio mental.
O filme causou-me forte impressão. Primeiro pela excelente qualidade em todos os seus aspectos: narração; realização; enredo; representações. Mas, sobretudo impressionou-me porque me pôs a pensar em realidades que já antes tinha observado e que, por associação espontânea, se avivaram com a assistência a este filme.
De repente a história a que assistia fez-me voltar a pensar no efeito de certas práticas médicas e nas soluções farmacológicas a que certos médicos deitam mão. Esses pensamentos já antes me tinham preocupado.
Pensei na maneira como, a propósito de quase tudo, se receitam fármacos para serem usados durante períodos que parecem exagerados, para atacar situações que, talvez erradamente, a mim me parecem banais ou sem gravidade para que sejam aplicados tão demoradamente ou em doses grandes demais.
Ora, o filme descreve precisamente uma destas situações, retratando um caso clínico em que o uso imoderado de medicamentos, agrava a sintomatologia da doente e gera uma galopante dependências dos fármacos que foram prescritos pela médica anterior.
Mais de uma vez fiquei perplexo com situações similares de que tive conhecimento na vida real. O filme avivou-me a consciência desta situação e fundamentou algumas suspeições que eu já tinha formulado e que me levam a colocar as seguintes questões:
- Que raio de sociedade é esta em que as pessoas são levadas a medicar-se para além dos prudentes limites do seu bem-estar?
- Que raio de Medicina é esta que trata de garantir uma aparente felicidade, colocando em risco a integridade daqueles que devia curar?
- Que raio de médicos são estes que parecem receitar mais em função do consumo de medicamentos do que em função da saúde dos doentes?
Confesso que, perante a denúncia feita por este excelente filme, me lembrei de alguns autênticos vivos-mortos em que certas práticas médicas transformam alguns pacientes que são levados a recorrer a certos fármacos para dormir e a outros para os fazerem acordar.
Que raio de indústria farmacêutica é esta que parece mais interessada em "vender uma falsa felicidade" do que encontrar cura para a enfermidade?
O problema está sempre em que quando alguns ganham milhões, muitos terão de ser sacrificados.
Já agora, uma pergunta um tanto ingénua: Porque terão os médicos de receitar tantos medicamentos a doentes que apenas se queixam de se sentirem infelizes? Não seria muito melhor ajudar os pacientes a tomarem consciência das causas da sua infelicidade e da maneira de melhor saberem enfrentar os seus problemas?
Às vezes tenho a convicção de que os médicos deixaram de saber ouvir e entender os doentes que os procuram para que os ajudem a enfrentar os seus problemas. E, em certos casos, tenho mesmo a impressão que já não prestam cuidados de saúde mas que apenas recorrem a tecnologias e produtos químicos e que, só por equívoco se continua a chamar a isso Medicina.
Tenho esta estranha convicção: Em certos casos, as pessoas que procuram um médico, estão mais necessitadas de ouvir palavras amigas de aconselhamento, compreensão e conforto do que de tomar fármacos. Infelizmente, parece haver cada vez menos médicos disponíveis para práticas semelhantes.
Mas, enquanto forem admitidos aos cursos de Medicina os candidatos que têm notas mais altas, sem se atender também, como critério de selecção, aos que têm mais vocação...
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