Senhor Ministro Paulo Portas:
Fiquei muito sensibilizado pela preocupação
que Vossa Excelência manifestou com os efeitos nefastos que a greve dos
professores nos dias de exames poderia provocar no meu futuro.
Mas, para tranquilidade de Vossa
Excelência, venho dizer-lhe que não tenha qualquer preocupação no que me diz
respeito, porque eu, este ano não poderei apresentar-me a exame.
Saiba Vossa Excelência que
aconteceram várias situações na nossa família que impediram que eu continuasse
a frequentar a escola, ou seja, deixei de poder continuar a estudar. Foi pena
porque pensava concluir o 12º ano e candidatar-me à frequência de um curso
universitário. As notas tiradas nos anos anteriores abriam uma forte
probabilidade de poder atingir esse objectivo, porque a média das
classificações era bastante elevada. E, como eu sempre gostei muito de estudar,
tudo levava a crer que assim continuaria neste ano terminal do Ensino
Secundário.
Mas, não me restou qualquer
possibilidade depois do que, ao longo dos dois últimos anos, nos foi
acontecendo:
-
Primeiro foi o encerramento da fábrica
onde o meu pai trabalhava;
- Depois os atrasos nos
pagamentos da prestação da casa obrigou-nos a entregá-la ao banco e a vir viver
para casa dos nossos avós;
- Logo a seguir os meus avós
ficaram sem os subsídios e viram reduzidas as suas reformas; sendo ambos muito
doentes, parte do seu rendimento vai para medicamentos;
- O meu pai não conseguiu
arranjar novo emprego e recorreu a alguns biscates que vai fazendo na
vizinhança;
- A minha mãe tem procurado algum
ganho na prestação de serviços de limpeza;
- A minha irmã mais nova precisa
de apoio nos estudos e eu posso dar-lhe uma ajuda para que ela não se atrase.
Por tudo isto, não havendo
dinheiro para poder comprar livros e outro material escolar, não sendo possível
sustentar o preço dos transportes e das refeições na escola que fica bastante
afastada da nossa residência, não restou alternativa que não fosse eu ter
abandonado a escola.
Portanto, como vê, não deve estar
tão zangado com os professores, pois não são eles os culpados destas coisas que
acabo de descrever.
Assim sendo, quero que Vossa
Excelência tranquilize a sua inquietação, pois, segundo sei, muitos haverá como
eu que não irão ser afectados com a greve dos senhores professores.
Mas, francamente lhe confesso que
até compreendo que eles queiram fazer greve. Se calhar estão com medo de perder
o emprego. É que se as coisas assim continuam, haverá cada vez menos alunos e
serão necessários cada vez menos professores.
Agradeço a preocupação
manifestada, despeço-me ciente de que nada disto acontece por culpa de Vossa
Excelência. Ninguém com a boa vontade de que Vossa Excelência deu claras
provas, seria capaz de fazer fosse o que fosse para que tantas desgraças nos
acontecessem.
Com os melhores cumprimentos
Venerante e Obrigado
(Um aluno, colocado na reserva contra a sua vontade).
Meu caro, está tudo na Constituição. O que estamos a sofrer é a aniquilação do Estado Social e a sua substituição por uma ditadura económica ultra-liberal. Quando o processo finalizar, da Constituição as palavras voarão com o vento da noite. Estamos entregues aos malvados e parece que todos os homens bons tiraram férias.Que Deus tenha misericórdia das nossas almas.
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