A entrevista que faltava, sem excluir as futuras
A dureza daquele período decorreu de uma situação externa inédita – uma crise financeira que nos apanhou no clube da moeda única -, mas sobretudo dos ataques internos e ad hominem contra Sócrates. Mas o entrevistado não assume o papel de vítima nem é por considerá-lo como tal que aqui exprimo o meu agrado pelas considerações político-filosóficas por ele tecidas e pelos seus esclarecimentos. Evidentemente que tem razões de queixa e, a propósito, chama nomes a algumas criaturas, porque legitimamente o enfurecem. Mas basta ver o estado do país. São totalmente merecidos. De resto, lucidez, convicções, intransigência de princípios e vontade de agir continuam a não lhe faltar. Não compreenderei, cem anos que viva, como pôde o país dar-se ao luxo de dispensar este homem.
Diz-nos que foi um erro ter decidido governar sem maioria naqueles agitados anos que se seguiram ao eclodir da crise financeira internacional. Visto à distância, parece claro. Mas a questão é se poderia não o ter feito. Depois de campanhas e campanhas contra a sua pessoa (incluindo conspirações urdidas em Belém), das quais aliás, passados estes anos, ainda perduram fortes ecos, poderia ter ignorado e desbaratado uma vitória eleitoral? Foi apenas humano não o ter feito. Entretanto revela que a crise das transferências de verbas para a Madeira esteve muito perto de provocar a demissão do Governo (a meu ver, já antes a discussão sobre a carreira docente poderia ter sido um bom motivo para bater com a porta). Não o fez e as circunstâncias inéditas a nível europeu devem tê-lo justificado. Mas se o tivesse feito, ficaria provado para todo o sempre como mentem os aldrabões que a toda a hora o acusam de não ter querido cortar a despesa, de ter mesmo entrado num desvario despesista (dando a entender que eles, sim, queriam cortes, o que é uma rotunda mentira). E ficariam com isso impedidos de mentir como fazem agora apostando na curta memória dos portugueses e concentrando os ofuscantes focos no dramático pedido de ajuda externa. Foi essa a pena. Mas, homem, o combate para evitar esta tragédia em infinitos atos que é a Troika foi teu.
Aspirina B
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