quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ou há moralidade, ou...

Neste diferendo entre as autarquias e o governo, por causa das dívidas, há coisas que, bem analisadas, não fazem o menor sentido. Ou será que fazem sentido demais?
Senão, vejamos: 
O senhor Fernando Ruas, presidente da Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP), protesta exaltadamente porque o governo deve às autarquias 176 milhões de euros, sendo que nesta verba se incluem os 76 milhões que dizem respeito às questões relacionadas com a educação.
Com base nisto, o senhor presidente da ANMP, ameaça com "a intenção de várias câmaras devolverem ao ministério a gestão das escolas" e sugerindo que "negociar com o Estado, só com o dinheiro na mão".
Ponhamos de parte a averiguação de quem terá ou não razão, sem ignorar que os responsáveis pelo Ministério da Educação protestam, apresentando argumentos comprovativos de que as dívidas têm sido regularmente liquidadas.
Perante esta questão, ocorre-me um velho provérbio que diz: "Quem não for justo, não deve clamar por justiça". E isto porque, segundo dados revelados no Parlamento, em sessão da Comissão do Orçamento e Finanças, "a 30 de Julho, as autarquias tinham dívidas a fornecedores no valor de 2.600 milhões de euros. Ora, diz o povo que "quem deve, não tem razão para exigir que lhe paguem" e que "não se deve estender a perna para além do lençol". Por outro lado, porque não aplicar aos municípios a "lei" que eles ameaçam aplicar ao governo? Ou seja, deveriam os fornecedores impor o crédito zero e passarem de imediato a só fornecer às autarquias aquilo que pagassem com dinheiro à vista.
É que nisto, fica-se com a impressão de que, no que respeita a dívidas, o senhor presidente da ANMP propõe dois pesos e duas medidas que se traduzem noutros ditados populares:
- Para os seus devedores, "no que tiveres de pagar, não te faças demorar";
- Para os seus credores, "pagar e morrer, o mais tarde que puder ser".

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