domingo, 17 de julho de 2011

A "Verdade" e as verdades

Apetece-me repetir aquela divertida frase que dizem que terá dito o grande artista da bola João Vieira Pinto: O clube estava à beira do abismo, mas tomou a decisão certa: deu um passo em frente. 
De certo modo, foi isso o que fez o nosso primeiro-ministro, uns dias atrás, quando declarou que o governo anterior lhe deixou um "desvio colossal" no défice, que estava oculto.
Ora bem! Como estamos à beira do precipício, o nosso primeiro resolveu dar um passo em frente, pois é sabido que, afirmações deste tipo provocam sempre reacções indesejáveis nos  mercados financeiros. Ainda por cima, afirma com convicção que fez o que devia ter feito, subentendendo que, não sendo ele como Sócrates, não mente. 
Primeiro que tudo levanta-se uma questão:  A tão falada troika analisou as contas públicas e não deu pelo "desvio colossal"? Então, como o nosso primeiro não mente, levanta-se outra questão: a troika, ou foi incompetente no cálculo, ou foi cúmplice na mentira do ex-primeiro Sócrates.
Ora vamos lá ver, porque parece haver nesta questão algo que não bate certo. Porque, se o nosso primeiro se enganou, então podemos concluir que lhe sobra em presunção o que lhe falta em competência. Se o nosso primeiro está certo, então não há razão para levar a sério as determinações propostas pela troika.  
Mas, se for este o caso, mesmo assim, o nosso primeiro acabou de dar uma enorme prova de imprudência e de falta do bom-senso que convém ter quem assumiu tão alta responsabilidade na governação. Se é certo que se deve sempre tomar em consideração a "Verdade", todos nós temos que considerar que há verdades que mais vale calar. Se há verdades que devem ser ditas porque esclarecem, há verdades que devem ser reservadas porque, ditas, só vão agravar mais o que já está muito complicado. É grave que um primeiro de Portugal não tenha este principio em consideração.




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