Não tenho interesse e, para dizer
a verdade, não me agrada muito, apurar das razões que me levam a ter determinados
gostos ou a apreciar certos comportamentos. Esses exercícios de auto-análise
não me levam nunca a conclusões que me tragam algum proveito ou virtude.
Vem isto a propósito do gosto que
sinto no convívio com algumas, sublinho algumas,
pessoas de idade mais avançada. Gosto particularmente das conversas que
mantenho com um amigo que eu considero uma das mais interessantes pessoas com
quem tenho o privilégio de poder conviver.
Sendo certo que, em muitas das
nossas conversas, eu puxo assunto para que fale sobre a sua experiência
enquanto professor, num destes dias, trouxe-me um escrito dizendo:
-
Olhe, meu amigo, aqui tem o que eu considero ser a melhor receita para fabricar
um boa aula.
Tomam-se, em partes iguais, uma boa dose de
saber, outra de humildade. Juntam-se muito bem até constituírem uma massa
homogénea. Tempera-se generosamente com dedicação, empenho e alegria.
Autoridade q.b.
Prepotência e imposição, são condimentos que não ficam bem a este
género de alimento: azedam-lhe o paladar; tornam-no pouco apetecido.
Deixe-se a massa assim
temperada em repouso activo para que levede. Depois cozinhe-se em lume médio.
Sirva-se em banquete
de não menos de 15, nem mais de 30 convivas. É indispensável que a degustação decorra
em bom ambiente e em baixela adequada.
Acompanhe-se com o vinho suave da
generosidade.
Tem este pitéu duas
notáveis características: Gosta-se tanto mais
dele quanto mais vezes se prova; Produz nos que o
provam uma agradável sensação de proveito e de bem-estar.
Fiquei muito desconfiado: acho que, o meu sábio amigo,
dando-me uma receita de aula quis dar-me uma lição de vida.
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