As palavras, mais do que as
atitudes ou as expressões do rosto, revelam o verdadeiro carácter e o íntimo sentir
das pessoas.
Quando um ministro da economia,
pressionado pelos deputados, no Parlamento, acerca de um facto central da sua
acção política, se refere ao “coiso” porque não lhe ocorreu a palavra “desemprego”
que devia utilizar, ele revela na sua atrapalhação que está numa enorme tensão
e revela uma enorme insegurança e desconforto com o tema que se traduz no nervosismo
que o leva a titubear a primeira palavra que lhe vem à boca.
Mas, quando um primeiro-ministro
declara que os desempregados devem deixar de se queixar e dramatizar porque o
desemprego deve ser encarado como “oportunidade” para novos rumos para a sua
vida, ele não revela nervosismo. Revela o que, no seu íntimo sentir, significa
para si a política. Porque, se a política para si significasse a
disponibilidade para se colocar ao serviço dos outros, ele teria sensibilidade e
capacidade de compreender o que o “desemprego” significa para quem está na
situação de “desempregado”.
Para quem tem como única garantia
da sua segurança e conforto de vida, para si e para os que de si dependem, aquilo
que recebe em troca da sua força ou capacidade de trabalho, o “desemprego” é o
pior dos dramas.
Para um primeiro-ministro o “desemprego”
deve ser muito mais do que um drama pessoal. Neste país há, neste momento,
cerca de 770 mil desempregados e, bem vistas as coisas, se tomarmos em
consideração os familiares que dependem dos que ficaram sem emprego, trata-se
de um fenómeno que afecta, no mínimo, mais de 1 milhão e meio de portugueses.
Trata-se de um flagelo social
capaz de tirar o sono a qualquer governante que tenha plena consciência social
das consequências das suas acções e decisões. A menos que estejamos perante um
político que, bem lá no fundo, pensa que isto da política não passa de um jogo,
de um conjunto de habilidades, para ir dizendo algumas frases de ocasião, para
mostrar que se tem muito espírito e muito jeito para a “coisa”.
Pois é… As palavras são quase
sempre um espelho do que nos vai na alma…
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