Globalmente, no ano que passou, a economia mundial cresceu 3,2 %.
Entretanto, os grandes magnatas, nesta economia globalizada, viram as suas fortunas crescerem a um ritmo bem mais intenso.
Começando por Carlos Slim, considerado o mais rico do planeta, com uma fortuna estimada em 57 mil milhões de euros, viu o seu capital crescer mais 10,2 % no ano que agora findou. Entretanto, no seu país, o México, a economia cresceu apenas 4%.
Bill Gates que ocupa o segundo lugar, com um crescimento de 5,3%, viu a sua fortuna crescer a um ritmo que é maior que o dobro do crescimento da economia do seu país, os EUA.
O cidadão espanhol, Amâncio Ortega, dono da Zara, com a sua fortuna de muitos milhares de milhões a crescer 16,8% , situa-se num patamar de crescimento que nada tem a ver com o que se passa na sua Espanha a braços com uma grave recessão.
Convém entendermos que, vistos como pessoas, estes magnatas não podem, nem devem ser considerados como pessoas destituídas de sensibilidade social. Têm sido amplamente noticiados os projectos e acções filantrópicas de Bill Gates e, ainda há pouco, a comunicação social divulgou que Amâncio Ortega entregou 20 milhões de euros à Cáritas de Espanha.
Mas, então que se passa? O que é que não está a correr como devia? Porquê esta anormal distribuição da riqueza?
Em última instância, parece óbvio que o capitalismo deixou de ter uma função produtiva de bens, para ter uma função de acumulação expansiva de dinheiro. Ou seja, estamos a assistir à emergência de um capitalismo especulativo.
E porque é que as coisas estão a evoluir neste sentido?
Fundamentalmente, por uma razão: Os Estados que deviam assumir uma função reguladora de redistribuição da riqueza, a fim de evitarem desequilíbrios e rupturas, passaram a estar dominados pelo jogo especulativo dos que controlam os meios financeiros.
Só assim se compreende que a actual crise esteja a constituir uma oportunidade tão favorável para tornar mais risco os ricos e para tornar cada vez mais difícil a vida dos mais pobres.
A situação grava-se de tal maneira que ocorre uma frase de Romain Rolland (1866-1944), escritor francês, ensaísta, pacifista, prémio Nobel da literatura em 1915:
Quando a ordem é injusta, a desordem é já um princípio de justiça.
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