O alargamento por mais um ano do prazo para redução do
défice orçamental parece justificar todas as críticas já efetuadas à
comunicação do primeiro- -ministro, tanto na forma como no conteúdo. A
escritora dinamarquesa Karen Blixen dizia que os seres humanos são capazes de
suportar todos os sofrimentos desde que eles façam sentido. Ora, a brusquidão
desajeitada da comunicação de 7 de setembro, do chefe do Governo, foi incapaz
de dar as razões e os argumentos, que são a base do sentido. Ora, depois de
escutar o ministro das Finanças, ontem, percebi que as regras do jogo são
outras. Numa resposta ao jornalista Nicolau Santos, o homem que tem a primeira
e a última palavra sobre a condução da austeridade no nosso país, depois de
aceitar que é legítimo colocar-se a questão de saber se a atual política pode
correr o risco de criar um ciclo "diabólico", em que a recessão chama
mais austeridade, e esta agrava a recessão, dispensou-se de contra-argumentar,
afirmando que a sua crença é outra, a de que voltaremos, já em 2013, a ver
sinais de inversão de tendência. É verdade que toda a política implica navegar na
incerteza, mas, há uma diferença entre conhecimento incompleto e uma declaração
de fé, que se ergue contra a força dos factos empíricos sem explicar como é que
estes podem ser invertidos. Na verdade, a boa política é aquela que faz
economia da violência, também porque não poupa na boa semântica. Substituir a
política pela fé conduz, geralmente, ao contrário.
Por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
In, Diário de
Notícias, 12 de Setembro de 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário