domingo, 16 de setembro de 2012

UMA QUESTÃO DE FÉ

O alargamento por mais um ano do prazo para redução do défice orçamental parece justificar todas as críticas já efetuadas à comunicação do primeiro- -ministro, tanto na forma como no conteúdo. A escritora dinamarquesa Karen Blixen dizia que os seres humanos são capazes de suportar todos os sofrimentos desde que eles façam sentido. Ora, a brusquidão desajeitada da comunicação de 7 de setembro, do chefe do Governo, foi incapaz de dar as razões e os argumentos, que são a base do sentido. Ora, depois de escutar o ministro das Finanças, ontem, percebi que as regras do jogo são outras. Numa resposta ao jornalista Nicolau Santos, o homem que tem a primeira e a última palavra sobre a condução da austeridade no nosso país, depois de aceitar que é legítimo colocar-se a questão de saber se a atual política pode correr o risco de criar um ciclo "diabólico", em que a recessão chama mais austeridade, e esta agrava a recessão, dispensou-se de contra-argumentar, afirmando que a sua crença é outra, a de que voltaremos, já em 2013, a ver sinais de inversão de tendência. É verdade que toda a política implica navegar na incerteza, mas, há uma diferença entre conhecimento incompleto e uma declaração de fé, que se ergue contra a força dos factos empíricos sem explicar como é que estes podem ser invertidos. Na verdade, a boa política é aquela que faz economia da violência, também porque não poupa na boa semântica. Substituir a política pela fé conduz, geralmente, ao contrário.

 Por VIRIATO SOROMENHO-MARQUES
In, Diário de Notícias, 12 de Setembro de 2012

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