Tenho um amigo com uma tal aversão à política que se recusa terminantemente a tomar partido contra seja o quê ou quem for. Julgo que a posição radical que tomou está errada. Mas, costumo respeitá-la e nunca conduzo as nossas conversas nesse sentido.
Com minha surpresa, no outro dia estava tão furioso que começou a protestar contra o descaramento e a falta de carácter de certas pessoas, referindo-se a uma situação que, no essencial, era muito política. Em resumo, e procurando seguir as suas palavras, foi dizendo o seguinte:
- Que não se podia admitir que fulanos, sempre que se reuniam, era para achincalharem uma personalidade local que exerce um cargo político de destaque e o faziam em termos chocantes, uma vez que essa personalidade muito os beneficia em termos de ganhos e de destaque que por ela lhes é conferido;
- Que sempre se dirigiam a essa pessoa designando-a em termos ofensivos e de grande desprezo e desconsideração, como a anã, a coisa pouca, o clone e a cortiça.
- Que por si próprio, tinha compreendido o significado dos primeiros termos, os quais são muito ofensivos, mas que lhe tinha escapado a razão de ser do último e perguntara, tendo-lhe sido explicado o porquê;
- Que a cortiça significava a maneira como a dita pessoa tomava decisões, ou seja, vinha um e dava a sua opinião e ela dizia que sim; vinha outro e dava outro parecer e ela concordava. Portanto, tal como a cortiça, andava ao sabor das ondas.
Dizia o meu amigo que a falta de carácter de certa gente não conhece limites e usava expressões tradicionais com que procurava traduzir o desprezo que lhe provocava esse tipo de gente. Expressões como: cuspir no prato onde comem; morder na mão que os afaga; comer a minhoca e c... no anzol.
Acho que o meu amigo tem razão. Só é pena que ele não entenda que política é isto que ele faz, censurando a imoralidade dos que ele pensa que fazem política, quando efectivamente, estes fazem uma coisa completamente diferente a que podemos chamar: trafulhice, aldrabice, traição, mau-carácter e outras coisas que caracterizam o modo de proceder a que devemos chamar politiquice.
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