segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Esquerda, direita, morder a mão que dá de comer

Eu, residente neste enclave entre Portugal e Espanha, onde os dias passam iguais aos dias que sempre foram, ciente de que não tenho nada de interessante sobre que possa e deva escrever, optei por ir divulgando o que outros, com mais oportunidade, com maior interesse, com melhor saber e mais aguda inteligência, vão escrevendo sobre o que se passa e se pensa, lá por fora, onde a vida continua a acontecer.


Durante uns anos, era que a Esquerda e a Direita eram a mesma coisa e isto e aquilo. A actual crise mostrou que afinal não é bem assim, que há uma diferença. Mas não é a que aparece à primeira vista. É que há uma gente que se diz à direita e que não tem uma única ideia na cabeça, simplesmente porque não estuda a sério, nem quer estudar. Só isso explica a obsessão com a "reforma" do Estado. Não têm mais nada em que pensar, só no Estado, tudo é o Estado. E não é estranho, quando estão intimamente ligados ao pessoal que passa o tempo à porta do Estado e que quase já nem vale a pena elencar, das privatizações aos contratos de rendas, das assessorias financeiras aos pareceres jurídicos, das parcerias de lucros garantidos aos bancos que se entretêm a comprar e vender títulos públicos, das concessões aos negócios dependentes de leis proteccionistas? Não admira que nem uma voz desses negócios se levante contra os pretensos reformadores. A prova a contrário de que assim é é o que se tem passado na Concertação Social, que está unida contra tudo isso. Há gente que devia saber sair de cena a tempo, e Portas seguramente pertence a esse grupo. Que vá para casa pensar, como fazia antes de ser o que não é. Bem, mas no fundo, no fundo, até faz sentido, perdoe-se a contradição em tão poucas linhas: é que o dinheiro público não chega para todos, e em alguns é preciso cortar.

Pedro Lains, http://pedrolains.typepad.com/31 outubro 2013

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