terça-feira, 1 de junho de 2010

Nem todos esquecem

Como reorganizar esta terra onde, durante tanto tempo, predominou a incompetência, a ignorância e prepotência? Dizem os mais velhos que o mal vem de longe, de um tempo em que eu ainda nem sequer suspeitava de tais desmandos e das consequências que haviam de provocar.
O mais grave é constatar que os que se habituaram a pôr e dispor a seu belo prazer, como se fossem senhores absolutos da vida dos outros, continuam numa fúria cega a destilar ódios e vinganças, sonhando apenas com o regresso ao poder. Remoendo ameaças, lançam sobre os outros suspeitas de estarem a fazer o mal que eles próprios sempre fizeram. Julgando como sempre julgaram que os outros não passam de tolos que eles podem manipular a seu belo prazer, esquecem que há muita coisa difícil de esquecer. Como pode alguém esquecer que foi humilhado, isolado, parado, impedido de exercer a sua profissão, mantido como autêntico prisioneiro, condenado, sem culpa formada e sem julgamento, a uma imobilidade castradora? Como poderão esquecer aqueles que os ajudaram a subir ao poder mas que, quando recusaram ser cúmplices das suas traficâncias, se viram desprezados, perseguidos e condenados ao isolamento e a uma frustrante inactividade? Como esquecer que os mais incapazes mas corruptos, os mais incompetentes mas servis, fossem alvo de distinções e recompensas, enquanto os amigos de ontem passaram a ser considerados perigosos inimigos a abater?

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