É triste constatar que, em muitas autarquias, se propagandeiam certas actividades de gosto e de utilidade muito duvidosos, intitulando-os de política cultural. Em quase todas, há mesmo departamentos a que chamam da cultura mas que, efectivamente, se limitam a funcionar como centros de promoção e realização de actividades a que se tornou moda chamar eventos. O mais grave são os recursos financeiros que são consumidos nessas realizações. Como são coisas de pouco ou nenhum valor em termos culturais, dos quais não se tira nenhuns proveitos, deles nem sequer fica grande memória. Acabam por ser apenas sorvedoiros de esforços e de dinheiro.
Ainda por cima, há a tendência de chamar a isto cultura popular, o que ainda complica mais a questão. A cultura popular é um assunto sério que tem de ser bem analisado. O que muitas vezes se faz é inventar umas titaradas e chamar-lhes cultura popular. Ora, a cultura de uma comunidade é a melhor maneira de compreendermos como evoluiu ao longo do tempo. Não porque ela se limite aquilo que conseguiu realizar no passado. Mas porque isso pode mostrar se tem ou não capacidade para dar resposta às necessidades e aos problemas que tem de enfrentar no presente.
Em Portugal nunca se falou e exaltou tanto o passado como no regime salazarista. No entanto, como era um passado inventado, nunca o nosso país foi tão pobre do ponto de vista da cultura. O mesmo acontece hoje com certas políticas culturais a nível das autarquias e é triste verificar que, em plena democracia, existam práticas políticas que estão a empobrecer culturalmente o nosso povo. Em princípio, isto não anuncia nada de bom.
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