domingo, 8 de setembro de 2013

O QUE TERÁ ISTO TUDO A VER COM CADA UM DE NÓS?



Há uma lei da limitação dos mandatos aprovada no Parlamento que o Tribunal Constitucional considera que não limita “porra” nenhuma. Melhor dizendo, obriga os caciques a mudar a cacicada para o concelho vizinho, Ou, como diz Rui Rio, é uma lei faz-de-conta. Faz de conta que os deputados estavam efectivamente preocupados com os caciques, os vícios de gestão e os lóbis quando legislaram a pseudolimitação.
(Paulo Baldaia, in Diário de Notícias, de 8 de Setembro de 2013)

Permitam-me que diga que esta lei não é apenas uma lei que nada resolve, porque, acima de tudo, é uma lei que prova que tudo vai mal na clarificação da responsabilização dos que exercem de maneira ilegítima, abusiva, corrupta e imoral os cargos políticos.
Se não repare-se:
            - Se o cacique muda de concelho, vai autocorrigir-se e deixar de usar os truques e artimanhas que usava no concelho onde antes exercia essas funções?
            - E quando se trata de um gestor autárquico competente, honesto e cumpridor da lei, não será um desperdício, impedi-lo de continuar a exercer a sua acção em benefício das populações que o elegeram?
            - E esta lei, mesmo que aplicada com rigor, impede que os corruptos de que, depois de uma interrupção de um mandato, voltem de novo a instalar-se no lugar onde consumaram os seus crimes?

Na verdade, parece que certas leis são feitas com o cuidado de parecer que tudo vão mudar, mas com a certeza de que tudo irá continuar na mesma.
Basta pensar um pouco para se perceber que, se houvesse uma acção fiscalizadora pronta e rápida e que se tribunais cumprissem eficazmente a sua função julgando e condenando em tempo útil os prevaricadores, essa lei não seria precisa para nada, porque, por essa via, todos os casos de abuso, de corrupção e de atropelos da lei seriam afastados em devido tempo do exercício dos cargos que indevidamente estavam a ocupar. Bastava que fossem impedidos de se voltarem a candidatar.
Todos estamos, neste momento, a assistir ao lamentável espectáculo de indivíduos que, por evidentes indícios de corrupção, estão arguidos em processos de julgamento mas que, devido à desesperante lentidão e ineficácia dos nossos tribunais, aí andam a promover-se como candidatos como se nada devessem e se de nada tivessem de prestar contas às comunidades que tanto prejudicaram.

Em consequência, como o crime compensa, a imoralidade, a ganância e a voracidade, vão-se instalando tornando cada vez mais verdadeiro aquele cínico dito de que “Não é vergonha roubar, vergonha é deixar-se apanhar a fazê-lo”.

Por isso, Paulo Baldaia, conclui de forma muito acertada o seu artigo, escrevendo:

Era preferível que não houvesse lei nenhuma: teria sido bem mais honesto legislar no sentido de construir uma maior fiscalização à gestão autárquica. Exigir maior transparência na contratação de serviços e na passagem de licenças, faria mais pela diminuição dos vícios de gestão e pelo combate à corrupção do que esta lei estapafúrdia. Já toda a gente perdeu a vergonha ou somos todos estúpidos?

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