Passa-se comigo uma coisa que eu não sei mesmo explicar. Quanto pior é a situação em que me encontro, mais eu fico embasbadado a ver até onde as coisas vão parar. Aconteceu comigo que, sem saber muito bem como, me deu para me meter à chuva e ir ver a sessão de fados no Centro Cultural, no passado sábado à noite. Nem sequer imaginei no que ia meter. Calculem só: nove fadistas cantando cada um quatro fados, um cantando três fados e dizendo umas piadas e anedotas, dá trinta e nove fados cantados, mais uma senhora de idade debitando poesia. E tivemos sorte porque faltou um fadista. Dou-vos a minha palavra de honra que os mais velhos que estavam à minha volta, começaram a cabecear de sono e o vizinho que ficou à minha direita chegou mesmo a ressonar.
Eu nem queria acreditar no que estava a acontecer. Uma boa parte do pessoal aproveitou o intervalo para se raspar. E eu, sempre parvo e com a minha doentia curiosidade fiquei até final para ver o que aquilo ia dar. Se a primeira parte ainda tinha tido algum interesse, apesar da grande diferença de qualidade entre os cantores, na segunda, as coisas tornaram-se por vezes muito difíceis de aguentar. A noite foi-se arrastando até cerca das duas da manhã, quando a dita senhora ainda brindou o que restava da assistência, com mais alguns versos. Eu já estava tão perdido de sono que nem me lembro do que ela disse.
Uma coisa é certa: apesar do gosto que tenho pelo fado, não caio noutra destas tão depressa. E olhem que alguns do que cantaram, cantaram muito bem.
Eu meto-me em cada uma!...
Eu meto-me em cada uma!...
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